11 de dezembro de 2010

ROMA

Dessa vez, eu não vou permitir que os pássaros voem sem rumo
E, tampouco, vou aguardar que eles batam à minha janela,
Vou apenas pintar as calçadas com giz lunar
E escrever ao contrário,
Quem sabe assim, me compreendam melhor!

8 de dezembro de 2010

Maná

O mar, hoje, subiu até o céu
As ondas se misturaram às nuvens em piruetas alucinantes e
Decidiram juntar a maré alta com a Lua cheia
Dizem que isso se dá na festa das ninfas aos
Deuses esquecidos,
Aqueles que vagam
Entre fartura e miséria,
Céu e mar,
Vida e sonho...
O Deus Sol se despede de leve
Deixando ainda vestígio de luz
Para iluminar as mentes obscuras,
Que se acomodam por cima
Dos montes ou
De quebradas pontes,
Olhando
Vislumbrados,
Com vinho jorrando de córregos
E maná cravado na terra
Mas, essa noite
O mar chegou ao céu
E o que era vida e sonho,
É só sonho
Pelo menos até o amanhecer!

5 de dezembro de 2010

Imposto de renda que não remenda

Caro Governador;

Ontem, eu voltei a pisar nos pedaços de chão gasoso que há tempos
haviam sido substituídos por chão de concreto.

Minha memória não comportou tanta solidez, e de novo passou a se
diluir em pensamentos efêmeros de um passado que a cada dia se torna
mais presente.

Tentei andar na contra mão e sair correndo na escada rolante, quando
tropecei de novo nesses pensamentos, presos em serpentes de metal em expansão.

Na fuga dessa CIDA.de eu fui obrigada a pagar pedágio, paguei caro por essa estrada tortuosa, e acabei me acidentando, por esse coração não pavimentado.

Oh Seu Governador, dos impostos e pedágios tão altos, acho que o Estado me deve uma causa, hein? Porém, por mais paga que seja não há asfalto ou paralelepípedo algum, que a possa reparar.

Att,

Apaixonados não-correspondidos do Estado.

Cupido tolo

Amar e não ser amado
Ser amado e não poder amar
Cupidos que vagam pelos corações humanos
não entendem de humanidade, são cupidos!

1 de dezembro de 2010

ALL STAR

Sua presença passou como vulto essa noite
Cantou aquela letra sem melodia
E pisou forte,
Vestindo all star sem cadarço
Deixou um bilhete,
Com todas as estrelas
Mas sem céu para voar.
Vou ficar aqui
Até que você volte e me faça
Ver que os cadarços estavam de baixo da cama,
O violão no lugar,
E
Você perto de mim,
olhando o céu com todas as estrelas.  

26 de novembro de 2010

CIDA.de

A CIDA.de cresce para todos os lados, no correr das raízes metálicas subterrâneas. Enquanto isso, as formigas sustentam as cigarras-mestras, e estas cantam e riem da chuva que afoga os pequenos seres desprotegidos. Pisadas. Soterradas. Ignoradas.


 Vão as formigas delinqüentes, após o período sazonal da empreitada. Já proporcionado o bem-estar de outrem, são então, expulsas da terra cultivada. Pura propriedade alheia. Não há espaço para uma formiga, na imensidão dessa CIDA.de.


Não há buraco que resista à tempestade de ganância que advém das pomposas cigarras e seu canto de ingratidão. Não há maioria que hesite à força de raios e trovões mentais, que nascem das mentes ignorantes. A CIDA.de é o impesti.CIDA das formigas operárias. Que, depois de sol, chuva e relento, voltam cansadas para seus buracos pelas raízes de metal subterrâneas.


Cida - sufixo originário do latim, caedere, significa matar

14 de novembro de 2010

Selenita em " A Caixa Laranja do Arco-íris Dourado"

Selenita realiza, assim como centenas de milhares de mulheres, uma dupla jornada de trabalho. É secretária de um advogado falido no centro da cidade. Dr. Miguel. E, além disso, ao chegar em sua casa passa roupa, lava copo, estende roupa e pinta o cabelo. Vinte e quatro horas multiplicadas por três ao cubo. É essa a impressão que se tem observando essa dona.

Selenita é uma alavanca, daquelas que aprendemos em física, mais precisamente em mecânica. É só fazer a associação. Não olha nem para os próprios pés. Levanta-se às sete da manhã, sempre com o pé direito, pois isso já a direciona para o guarda-roupa, de onde recolhe sua calça preta de veludo e uma camisa branca amarelada, assim como todas outras que ainda tem. Depois escova os dentes. Toma café. Escova de novo os dentes e faz uma trança no cabelo (dá mais credibilidade, um dia lhe disseram).

Assim, toma trem. Metrô. Trem. Metrô, todos os dias e chega a seu trabalho. Passa oito horas em uma sala de três metros quadrados ao lado de um telefone e um computador Windows 98 – haja paciência. Tchau Doutor. Adeus, boa noite. Até amanhã. Ônibus. Metrô. Metrô. Trem outra vez.

Certa noite chegou em seu apartamento, abriu a porta da sala e, cansada, foi direto para o quarto. Sentou na cama. Parou. Olhou. Há tempos olhava sem ver nada. Nem sequer se tocava. Era uma máquina. Só mais uma máquina, entre um milhão de outras. Porém, nesse dia se olhou, tocou-se e achou. Se achou. Olhou seu quarto empoeirado pelo tempo. Sua cama, há tempos com extrato quebrado. O retrato na parede que agora te olhava sem parar. Ele sempre esteve ali. Só agora, Selenita o notava.

Sua escrivaninha. O telefone fora do gancho. Se isolou nessa sua ilha. Era mais uma máquina, somente. Uma máquina em uma ilha. Mas naquela noite, a verdadeira  Selenita reascendeu. Sua escrivaninha ainda estava ali. Abaixo dela uma caixa, tão empoeirada quanto tudo naquela casa. Abismou-se, pois há tempos não via esta, que, há certo tempo guardou todos os seus segredos, que hoje tão bobos lhe parecem.

Era a caixa laranja do arco-íris dourado. Era assim que Selenita chamava seu cofre de papel, pois para ela ali estava seus maiores tesouros. Tirou o pó com as mãos. Chacoalhou, tentado lembrar o que ali guardara.

Percebeu naquele momento que sua memória pouco a pouco se perdia. O presente não vivia. Pro futuro não tinha planos. E do passado sequer lembrava. Balançou de novo, nada ouviu. Foi aí que sentiu. E as memórias pouco a pouco lhe foram sendo constituídas.

Com esforço abriu a caixa que já estava velha e por pouco não se abrira. Abriu! Um toque de luz lhe foi inserido no corpo, na alma. Olhava com carinho aqueles pedaços de papel rabiscado, pintado, escrito. Tempos em que ainda escrevia. Em que ainda enxergava e em que ainda sentia.

Sua infância toda veio à tona. Seu mundo empoeirado se constituiu de laranja do arco-íris dourado... E se pôs a ler seus antigos, mas muito atuais versos. E aí se lembrou do seu passado e começou, a partir daí viver seu presente e trilhar seu futuro. Agora tinha razão para viver. Tinha uma história, não era só máquina e tinta no cabelo. 

12 de novembro de 2010

NADA

Quase todos os pássaros se foram
E o que sobrou?
Migalhas cozidas em chão de rapina
Quase todas as flores morreram
E o que restou?
Cores invertidas e perfumes coalhados
Quase todas as folhas já caíram
E o que ficou?
Galhos rabiscados e letras quebradas
Quase todas as notas se tocaram
E o que sobrou?
Um mi menor com sétima dedilhado
Todo o alfabeto foi escrito
E o que restou?
Uzbequistanês em Braille aprendido em Libras
Toda a política se fez
E o que ficou?
Platão fazendo uma gazeta no banheiro
Toda a rua se fez concreta
E o que sobrou?
Mudas
Todo o carro virou avião
E o que restou?
Previsão de hoje: nublado!
Todo livro já foi lido
E o que ficou?
Cento e quarenta caracteres
Todo prédio de desmoronou
E o que sobrou?
Almas sem-teto
Todo o céu desceu
Virou inferno
Todo diabo se fez anjo 
E todo anjo se fez bicho
E Todo o bicho se fez gente
E o que sobrou?
(NADA)

6 de novembro de 2010

Hold me

Essa senda parece não acabar
Mas do quê importa a estrada
quando se pode voar?

Ame e voe, 
por mais que algumas quedas
sejam doloridas, 
o importante é ter aprendido a voar!

28 de outubro de 2010

Aeroplano do Vô - o


                                     Sem saber onde vou,  apenas vôo

                                                           O 
                                                                    
                                               B                    C

                                         U                                 É

                                   S                                            U    e até lembro aeroplano

 Palavras de meu avô                                                           Que um dia me diziam

Me faz querer a infância                                                       Vôoltar 
                                                                                                                            
                                          V                               N  
                                                                                                                   
                                               O                    O
                                                                        
                                                    A          A
                                                        R R             

20 de outubro de 2010

De sebes, seixos e palavras exdrúxulas

Te divido em três elos
Mente, corpo e coração
Te ponho em meio à sebes
Quero tudo em minha mão
Esse egoísmo é feito seixo
Esparramado pelo chão
E esse vazio é tormento
Furando as trincheiras do coração

Fora de forma e fora de mim

Esse gosto de sal
Emudece-me
Enquanto o resto
De doce
Se compadece
Já não há mais
Por que
E nem tem
Razão
Apenas segredos jogados        fora
E dores 
                      e
                        s  
                          c
                            o
                               r
                                 r
                                   e
                                      g
                                         a
                                            d
                                               a
                                                  s
                                                       an   artnoc oãm
                              
              

Reto - projetor

Vida de projeto
No reto-projetor
Te vejo projetada 
Em meu arco-íris
sem c-o-r
Se pensa, imagina e 
não faz
Se cala, dorme e 
nada mais

Asas - Com os pés nas nuvens e a cabeça no chão

Desenho de Amanda Balice
Abra mão
E deixe que os pássaros
Voem,
Mesmo que de suas asas
Se faça necessário teu
Próprio vôo.
Às vezes,
É melhor voar com uma asa
Só,
A esperar que a outra
Se refaça.
É melhor deixá-la
De vez,
Para que, assim
Outros pássaros
A façam voar,
Como você não pôde fazer.
Abandone as asas quebradas,
Mesmo que seu vôo fique
In
Com
Pleto
Um dia você também
Encontra
Outra asa quebrada...

15 de outubro de 2010

54321...12345....54321...12345...

Socorro! A poesia se transformou em números!

Mostro, então, meu poema novo em folha. Não, novo em caracteres, novo em bits, novo em números. Socooorro, a poesia se transformou em números!  Digito tudo em pequenos espaços numéricos distintos e divulgo em meu caderninho de HTML.

E meus números viram mais números misturados com um outro tanto de números. As pessoas também viram números. E meus sentimentos viraram números. E eu virei só mais uma na multidão, que mesmo junto se sente só e mesmo só se sente apertada, em meio a tantos corpos desconhecidos.

Em meio a tantos sentimentos jorrando pela escada rolante .Quem desce jamais sobe e quem sobe só continua subindo. Quero escada rolante inversa, só sobe quem tiver descendo e só se desce pelo corrimão.

LUZzzzzz

E quando paro pra pensar nas coisas que o mundo tem me oferecido, e naquelas em que eu tenho oferecido a ele, eu simplesmente olho pro céu e observo as estrelas. Quão grande és tua imensidão e seu labor, pois iluminar tantas vidas ao mesmo tempo, é ,de fato, uma tarefa de muita grandiosidade. Enquanto eu, ser humano, por assim dizer, tento a todo dia (às vezes sem sucesso) iluminar meu próprio caminho. E nem esse eu consigo de maneira completa, ainda mais os outros que por aí estão! Queria eu ser como uma estrela do céu, por menor que esta fosse dessa maneira sim poderia dizer que ofereço algo ao mundo!

I. RR _Gu_AR

Ando pela rua
Levanto e vejo a Lua
Surpreendo-me com
Sua imensidão,
Sua luz me traz emoção!
Viajo no caminho das estrelas,
Suspiro... E sei lá,
Realmente meu forte não é rimar!
Nem as linhas eu sigo,
Sou meio irregular!

Adianta?

Queria eu viver em vão,
Mas logo vem a imagem de um irmão,
Queria eu, viver só pra mim,
Mas assim o mundo chega ao fim,
Pois, de quê adianta viver sozinho,
Quando o mundo é um moinho?
De quê adianta fama, poder e dinheiro,
Quando a fome é algo tão certeiro?
De quê adianta um carro caro,
Enquanto o semáforo estiver fechado?
De quê adianta ir embora,
Quando o mundo te ignora?
De quê adianta sorrir,
Se há tanta gente sem lugar pra dormir?
De quê adianta viver,
Se, quando olho ao meu redor,
Só vejo gente a sofrer?
De quê adianta?

Pós Scriptium

E então, percebo que há, ainda, uma folha em branco. Assim como também há de haver novos caminhos a serem escritos, novos lugares a serem descobertos, novos amores a serem sentidos [...] Mas somente uma vida cabe em tudo isso, assim como somente esse momento coube para escrever nestas linhas, que agora já estão escritas! 

Tolice

Palavras escoam entre os dedos
Sentimentos latentes também vão com o vento
Essa vida doce verte em veneno
Verdades frias se tornam mentiras quentes
Andar sem rumo
 Fingir não ser gente
Procurar um caminho
No fogo da mente

Metalinguisticando

 As palavras? Ah, apenas se condensam em  meu cérebro e se evaporam em reticências (...) Quanta metalinguagem pra descrever o que se sente, quando na verdade basta  somente um olhar. Um olhar torto, baixo, escuro, mas um olhar que diga.

2 de outubro de 2010

Falar de cor é falar de coração?

Quantas cores há no arco-irís?
E com quantas cores eu pinto seu coração?
Se falar de cor é falar de coração,
a você ofereço todas as cores de todas as flores,
sem exceção.
A você ofereço o quente do vermelho
misturado ao verde do firmamento.
A você ofereço meu coração monocromático
tão colorido ao seu lado.
Colore meu céu mais uma vez?
Só pra eu saber o gosto que tem a
nuvem branca misturada ao azul anil,
me colore?
Me pinta a seu modo
de cor
a
cor
Mas, não esquece a 
COR
Não esquece a
AÇÃO
Não esqueça meu coração!

25 de setembro de 2010

Sobre pés e rosas

Olhares diagonais se cruzam
Em ângulos regulares.
Mãos sangrando suavizam
Ouvidos doloridos.
Há uma rosa florescendo
Em meio aos
Trilhos aquecidos,
Que, apertados,
Gritam alto
Aos fios de cobre
De elétron.
Olhares singelos enfiam-se
Entre as pernas
Em ângulos obtusos.
Pés descalços não caminham
- é proibido!
Descalços, por não caminhar,
Voam alto
Até o azul do céu ou
Do mar.
Cansados em não achar,
Com seus pés descalços
Voltam a cantar.
E entre os trilhos, agora,
Nasce a rosa e cantam
Os pés descalços,
Escaldados,
A rosa e os pés viram chão,
Não há pra eles olhares diagonais
Ou obtusos
Apenas escória de pés calçados.

Mistura matinal

Estou cercada de ternos e gravatas
com fone de ouvidos para emudecer os ouvidos.
Tu.Tu.Tu.
Dentro de uma serpente viva levando gente morta.
Em um metal gelado que corre nos trilhos,
com pessoas geladas que correm atrás de emprego.
Pela janela sinto o céu de brigadeiro.
Mentira.
Não é verdadeiro.
Não há céu e  nem mais canteiro.
Só há terra se quebrando por concreto.
Só há concreto se juntando a terra.
Só há concreto se rachando. 
Disseram que o mundo ia acabar,
mas não acabou.
O mundo não, 
os bípedes, sim! 
                (Selenita e Amora)

História do amor sem fim

Veja,
Essa história tá meio sem meio
Mas, pensando bem,
Ela nunca teve um começo
Pelo menos assim nunca terá fim.

24 de setembro de 2010

Ponteiros

Quero, em mim
Mais música
Assim,
Toco em ti
O que há aqui,
Sem fim.
Quero a segunda
Pessoa do
Singular
Junto à primeira
Num eterno e
Constante plural
Quero o tic tac
Do ponteiro menor
EncostandoNOMAIOR
Corrida permanente de um pelo outro.

7 de setembro de 2010

Confrontos internos (in)acabados

Quê calafrio. Pêlos e pupilas paulatinamente transferem-se de lugar. Tomam rumos distintos, mas advindos de uma mesma vertente – o sentir. Sinto as ligações neurônáticas neuraseando minha mente pouco desvairada. Pulsantes elas vão de encontro umas com as outras e teth-a-teth duelam-se. Ah! É a luta da consciência e da moral. Da razão e da emoção. Do viver e do deixar-se viver.

Cigarro. Café. Caneta em mãos. Nada mais constrangedor que olhar o relógio às 02:49 da madrugada e não ver o lado direito da cama ocupado. Mais triste, porém, é perceber que o fim começou antes mesmo de ser início e que o início nunca existira. Fruto de uma mente em aperto e coração embrulhado. Deitei os braços na janela, dei de cara com o vento. Malandro, o rapaz puxou meu cigarro fora. Virou cinzas ao ar, pro ar. Ao menos isso eu posso deixar como herança – as cinzas.

Ouvi o abrir das portas da garagem, o motor resfriando. Até me deu vontade de descer, mas a razão gritou de dentro de mim e subiu aos neurônios já calibrados. Ouvi seus passos vagarosos subindo as escadarias da sala, já era três da manhã e ele não havia nem ao menos ligado, avisando. Era o tudo ou nada. Era de fato, o fim da chegada – de sua chegada.

Seu perfume escoa facilmente em minhas narinas e minha memória não falha, é inconfundível. Finjo estar dormindo ou já o abordo na porta? Calma. Silenciar-se é o melhor remédio para os corações mal curados e também para as desculpas mal lavadas. Entrou, abriu o closet e lá resgatou, sem olhar, aquele seu pijama mais antigo, aquele que mamãe havia lhe dado em nosso primeiro ano de casamento.

Deitou-se ao meu lado e virou-se, como de costume, para fora da cama – e fora de mim. Fora de sintonia há mais de um ano, fora de amor, de sexo ou de dor. Éramos assim como dois planetas que vagam o mesmo universo, porém, separados por anos luz.

Não há nada mais sincero que uma verdade não dita. Não há. Não há eu sem nós, aliás, não existiria gramática, não haveria por quê. Eu é quando nós somos. E nós ser quando tu está. Em Dó maior ou Lá com sétima, arranho o céu ao pé do ouvido. Segredos de liquidificador você encosta em meus lábios, e o  coração vai a mão quando são tuas as mãos que me ouvem. Fico assim ao seu lado, de sentido revirado. Paladar e olfato viram tato. Que tato.

Mas seu silêncio soou tão alto que meus ouvidos logo se tampavam ao que (não) dizia. Não quis ouvir. Me fiz de surda e gritei alto, como se grita uma criança com fome. Foi em um instante uma borboleta em seu casulo, tendo que esperar um dia mais para sair. E você dormiu ali, ao meu lado. Calado. É nessas horas que volto a tomar meu calmante. Com café e um pouco de conhaque. São tantas projeções.

29 de agosto de 2010

Inacabatus Papyrus - o que não foi impresso continua sendo escrito à mão

Buscar em outras palavras a letra perfeitamente perfeita é em vão. Outras letras não cabem. Não me contento com vírgulas e tão pouco com reticências. Atento meus olhos às aspas que surgem, tento entender o sentido que me toca, em meio a tantos significados.

Luta profunda numa noite extremamente difusa. Mas esta palavra não sai e os fonemas que pelo caminho encontro não se encaixam. É tudo uma questão de contentamento, mas eu não me contento. É tudo uma questão de esquecimento e desapego, porém, em mim não cabe tanta reminiscência.

Abro então o dicionário e saio numa corrida alarmante entre os tantos verbetes que vêm à tona. Mas, mesmo sendo estes inúmeros, e em progressão geométrica, não substituem aquele único que tanto soa em meus ouvidos. Que tanto me acalenta a alma. Que num papiro aberto em cima da mesa mantém-se vazio, sem nenhuma lembrança, além daquela que num pretérito imperfeito já viera tocar meus dedos e vibrar em meus ouvidos.

Oh, verbete distante, fonema ausente, palavra inexistente. Percebo então que a letra perfeita para essa minha singela poesia só existiu nos mais loucos devaneios de minha mente desvairada. Que, desavisada, acreditou mais no subconsciente, agarrando pra si todas as lições da psicanálise psicanalítica de Freud , o que tudo explica, mas que nada, nesse momento, a mim faz entender.

 Pois nada e nenhuma palavra e nenhuma lei cientificamente correta, estritamente metodologicamente testada explicaria esse sentido enraizado, pois nesse momento meu subconsciente não explicaria nada a ninguém, pois nem eu consigo entender a busca por essa letra, que de meus dedos deslizam e sua ausência se torna dor, que de tão dolorida chega a ser palpável, e de não poder dizê-la é que fico aqui procurando uma maneira de escrevê-la.

18 de agosto de 2010

Aquela ruazinha

É apenas mais uma rua no mundo. Sim, isso é. Mas, olhando bem é o mundo todo em uma só rua, de várias vias. O horário não é tão importante, pois a constância desses seres movíveis é que lhe dão esse balanço tão singular, coletivo.

São tantas caras, pernas e braços, que não há lugar para se incomodar com os esbarrões [APROVEITE-SE DELES]. É clara. Escura. É vida. Som e silêncio. Dá-se tempo pra sonhar, mesmo atravessando o semáforo com passos longos e apressados.

Dá-se tempo pra parar, olhar e ser olhado. Ouvir e ser ouvido. Mas, impossível não sair admirado. Tamanha é sua beleza com variáveis montanhas de concreto e minúsculos bonecos muito bem feitos, entrando e saindo, saindo e indo.
 
É frenético. É calmaria. É música, rock n' roll ao ar livre. Fumaça de AUTO- móvel, cigarro e braço de árvore em calçada quebradiça – tão urbano quanto natural. Viagens transversais sem ponto de chegada, pois a saída é bem ali, descendo as escadarias: Metrô Brigadeiro, Trianon ou Consolação. Bem – vindo, essa é a Av. Paulista, o coração pulsante adolescente inconseqüente de São Paulo.

12 de agosto de 2010

E quando eu digo Sol vocês dizem Lua - Sol Sol Sol, Lua Lua Lua

Desenho de Amanda Balice

No mundo dos adultos a linha do horizonte acaba quando o Sol se põe...no mundo das crianças não, pois para as crianças o horizonte não possui linha, não há fronteiras entre o dia e a noite e tudo, até mesmo o Sol, pode ser alcançado!


Para as crianças o Sol é apenas o marido da Lua, e esta na verdade é um grande biscoito de água e sal, com água cristalizada, por isso é que a enxergamos assim, tão clara. E as estrelas são, em sua grande maioria, vagalumes que voam muito alto e se esquecem de voltar pra Terra.


(O blog é meu, portanto posto o que eu quiser, por mais estranho que isso pareça a você, mas só a você, porque pra mim não há nada mais normal que a loucura de sonhar. Aliás, o que é a loucura em um mundo onde pessoas denominadas "normais" destroem o próprio planeta onde vivem? #momentodesabafo)

6 de junho de 2010

Hipótese

Esse movimento dialético se faz muito constante entre os seres que habitam esse mundo, conviver com os opostos e se adaptar a eles virou questão de honra – ou vai ou racha. É difícil viver feliz e ao mesmo tempo triste. Entre Dioniso e Apolo parece haver tantos obstáculos...

E entre a vida e a morte eu vivo morrendo, mesmo. Morrendo de amor, morrendo de dor, morrendo de vida, por dentro e por fora, às vezes seguindo em frente, mas sempre com um olhar atrás, afinal, não sou uma ciência exata, a qual se compõe de forma ininterrupta e compassada.

Eu sou uma ciência sem nome, compondo-se e às vezes se desfazendo, e por conta disso digo que não sou ciência – sou apenas hipótese.

19 de maio de 2010

abuscadoeuéummovimentoconstantecontínuoedisformementevariado

A busca de nós por nós mesmos pode se dar em um dia, um mês, mas por vezes pode-se levar uma vida inteira! A busca do EU nunca se completa, e essa é a maior artimanha da vida, pois, enquanto nos procuramos, nisto ou naquilo, pouco a pouco vamos acrescentando mais experiências em nosso caminho, experiências estas que não seriam sequer descobertas, caso achássemos de primeira instância aquilo que chamamos de EU!


E assim, quando num dia de sol ou de chuva, o grande dia chegar, poderemos dizer, então, que passamos a vida inteira e não descobrimos nosso interior... mas sim vários interiores e muitos eus, e que isso sim é viver, é compreender que se pode ser várias pessoas em diferentes épocas, é ouvir em cada uma delas uma nota diferente, compondo ao cabo de tudo isso, uma mesma música...a vida!

18 de maio de 2010

Invenção de liberdade

Não quero a "concritude"
Tão menos a compaixão
Quero " livretude"
Misturada à solidão.


Ser pássaro a voar
Colibri viajante
Canário a cantar
Bicho-grilo andante

Sinta-me

Penso eu, que deve estar no silêncio tudo que quero ouvir. No seu silêncio. No seu tempo encostando no meu. Penso que deve estar nesse intervalo de tempo as (im)possíveis respostas das minhas tão previsíveis perguntas. Penso e não paro mais de pensar.

Remoo e remonto todos os tijolos, um a um, procurando entender a razão desses porquês. É como cravo que espeta e flor que perfuma. Água quente que jorra na pele fria. Inconstância linear de nossa última constante. Não entenda, não desejo que me entenda, somente que sinta, sente?

Clarice Lispector já dizia:
"Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato. Ou toca, ou não toca."

Tamanha dualidade

Tempo, tanto, temporalidade
Passado,presente, há lineariedade?
Busco, fujo, alcanço, espero
Narrativa ondulante,
Essa vida ondulante
Eu quero!
Biografia viva eu fiz de mim,
Sem ordem sem capítulo
Sem fim
Não há vida, assim, cronológica
mera lógica dessa vida tecnológica
Larga mão desse tostão
Vem cá comigo, menino
Deixa essa prisão!
Larga mão desse tostão,
Vem cá comigo, menino!
Me dê sua mão
Larga mão desse tostão,
"Vamo" no mundo,
viver em vão!
Larga mão desse tostão,
não leva a nada
é só ilusão!

Segredos de mim

Há um mar ali ao lado,
nonde as ondas batem
em meu coração apertado
Há uma seringueira ali na beira,
donde jorra um leite, em minha mente faceira
Há um sol ardente mais acima
bola redonda que me estremece e anima
Há em tudo isso intróito e reminiscência
Uma mescla de óbito e sobrevivência
Dualidade sempre presente
desse corpo, agora, ausente
Entre medo e sensatez,
fico com o medo, em procura da embriaguez!

5 de maio de 2010

Grande confusão na estação

Situações reais de selvageria. Homem bicho, êita bicho homem!


Ao chegar, hoje, à Barra Funda, por volta das 19 h, o sistema ferroviário decidiu, como num golpe de Estado, voltar para a estação de Franscisco Morato, e não mais seguir viagem até à Luz, a estação de destino. Grande perplexidade surgiu. Homens, mulheres, mães com recém nascidos e um vidro que não se abria, quase não dificultando a respiração, dentro daquele lugar tão arejado e vazio!


Sim, houve grande contestação, afinal, o povo não se cala, mas não sabendo a quem recorrer, logo desconta toda sua raiva na máquina. Quebram vidros, batem portas, como se de fato essas ações sugerissem alguma resolução. Mas a culpa não é do povo. E de quem é, afinal?


Em meados do século XIX com o arrebento das grandes máquinas, e também da percepção do papel do homem no meio produtivo, surgiram também homens que destruíam as máquinas pensando que este era o caminho para destruir o sistema que os consumia.


Passados, praticamente, dois séculos, muitas ações continuam arcaicas. Mas, por outro lado é essa a única forma que o amigo, que trabalhou mais de oito horas a fio, tem de manifestar todo seu desgosto. É a melhor forma? Eu não acho.

Mas até que que se criem respostas e recursos suficientes aos seus anseios e necessidades, essa cena continuará sendo vista, seja naquela grande centopeia que ronda pelos arredores da cidade, ou em qualquer outro lugar onde não há, de fato, melhorias para a população. Ahhh! Como diria o outro lá : # putafaltadesacanagem o trem de hoje!

30 de abril de 2010

Em busca da preguiça

São milhões em ação!
Desenho de Amanda Balice

São milhões em ação, sustentando uma variedade inexistente e falsa. São milhões em ação, vestindo todos os dias " a camisa". São milhões em ação, não por si e nem por todos, apenas por uns vinte por cento. São milhões em ação, sem parar, sem cansar, sem olhar, sem viver.


São milhões em ação dentro de uma centopeia gigante, alimentada por vermes, abafada e sem luz, assim como a vida de quem nela vai. São milhões em ação, sem ação alguma, sem mudança, sem luta, calando-se ao príncipe da vez (Maquiavel certamente nunca imaginou a imensidão do príncipe que agora transita entre nós), esse príncipezinho travestido de sociável, que diz agregar atudo e a todos.


Agrega mesmo! Agrega, a cada dia, novas mentes e corações, transforma o mundo real em virtual, faz de mim, de você, só mais um ser solitário em meio a multidão!

21 de fevereiro de 2010

MOINHOS (revoltados)

Medo e sensatez misturam-se dentro de um moinho de vento que não gira. Enquanto isso, a vida passa ligeira do lado de fora, e o que será? O que será que há além desse movimento rápido e contínuo? O que será que há, além desse buraco negro, colorido algumas vezes artificialmente? O que será? Moinhos, moinhos... Apenas moinhos que não se mexem, que não giram, e quando giram, param-se.


Manter-se imóvel ao que se vê é o mesmo que olhar pro céu e fingir não enxergar estrelas!
À mercê desse manto sagrado, dessa imposição calamitosa, os olhos não mais vêem. Ouvidos pra quê o servem? E a única que nesse jogo intrínseco tem razão, é a língua, ditando tudo a todos. Mas qual é a voz que se faz ouvir?


O tirocínio dos tiranos é que acostuma os ouvidos dos tiranizados, fazendo-os calar-se a todo e qualquer mal, a qualquer custo. Nascemos assim, impostos a um futuro que nunca poderemos mudar? E a falta de brio contida nesse sistema só demonstra a calamidade desse mundo, no qual luz de verdade só se encontra naquela advinda das estrelas, lá do céu.


“Impostos a um futuro que nunca poderemos mudar?” Oh, não! Isso é pessimismo demais, é ver o mundo de forma imóvel e estagnada. NÃO! A palavra a seguir se compõe de apenas três letras, três mínimas letras, e somente elas, juntas, podem mudar esse compasso... NÃO a todo esse ritmo disforme que vem sendo composto apenas pelos tiranos! NÃO a essa fórmula estabilizada de pensar e de se fazer pensar (aliás, o que será de nossas crianças?)! NÃO às ilusões distribuídas em nossas mentes todos os dias!(já existe o quinto poder, também?). NÃO às palavras bonitas, um tanto quanto eloqüentes que nos fazem ouvir! (prefiro seguir na contramão a seguir alguma direção!) NÃO a você, pequeno conjunto de átomos esparramados pela sala, sentado em um sofá marrom, reclamando da vida que leva!

Sentidos

Quando me ponho a escrever,
É como se um raio de luz brotasse em meus dedos,
Fazendo-me enxergar com as mãos
E não mais com olhos,
Falar com as mãos,
E não mais com a boca,
Ouvir com as mãos,
E não mais com ouvidos,
Mas ainda assim,
Sentir com o coração!
Eu posso escutar o silêncio da noite,
Eu posso enxergar, mesmo de olhoscerrados,
Eu posso falar, ainda que calada,
Eu posso tocar as estrelas, mesmo sem alcançá-las!
Como?
Porque eu sinto,
E sentir com o coração aberto
Vale mais do quê qualquer SENTIDO!

Ignorância

A ignorância dos homens
sobre o mundo e sobre todos
é enorme,
passando barreiras,
estreitando caminhos,
sufocando vidas
matando sonhos,
soluçando corações,
queimando almas e
destruindo a si mesmos!
Até que ponto, está tão conhecida ignorância
irá durar?
Eu não sei,
você não sabe,
pois também somos igonorantes,
só pensamos em...
Será mesmo que pensamos?
Temos fome,
mas não plantamos...Temos ceia,
mas não colhemos...Somosracionais (será?), mas não hesitamos em tirar a vida de um ser humano!

(criada em 2004, quando eu era apenas uma criança de 13 anos)

As amizades de todo (nenhum) dia!

Oh, o tempo passou,
Algumas máscaras caíram e algumas vertentes se abriram.
Oh, o futuro que imaginávamos está tão presente,
Em nossas breves conversas de pós-adolescente!
Planos idiotas e mentiras tão verdadeiras,
A pior verdade é que sinto falta daquelas faceiras.
Rir do passado é estupendo,
Pensar no futuro é que dá medo!
O quê torna uma amizade eterna, afinal?
É não perguntar o porquê
É não abraçar sem querer
É saber sem dizer o quê
É viver sem ao menos ver
É isso, é aquilo,
No final, o que realmente fica são as saudades,
E se há saudade, é porque de alguma maneira deixou marcas,
E marcas apenas se cicatrizam, mas nunca desaparecem!