31 de janeiro de 2011

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Meu sonho é um dia poder gritar alto em folhas de árvores caídas pelo asfalto. E, quem sabe assim, transformá-las em rosas. Meu segundo sonho é poder matar a fome, em cima de folhas de pão rabiscadas de caneta bic jogadas nas ruas, pelos cobradores de ônibus. Meu terceiro sonho é matar a sede com folhas de coca e fingir ser gente da tua gente.Não possuo quarto sonho...  Pois,  nem quarto eu tenho. Tenho apenas este quadro, que me faz se sentir enquadrado ao seu lado!

30 de janeiro de 2011

Minha pátria é o mundo e minha religião é fazer o bem

Você tenta me convencer que seu Deus é o dono da razão. E eu tento te convencer de abrir sua janela pro mundo, olhar as estrelas e ver que elas não são uma verdade absoluta, pois anos-luz podem se passar e estas estrelas se dissiparem no ar.Estrelas não são verdades absolutas e eu só quero, agora, abrir minha janela e olhar aquela estrela cadente, que logo se juntará a outra matéria composta de matéria. Tudo é matéria da sua própria matéria. As estrelas são você, você sou eu e isso é Amar – com maiúscula, pois se tem um nome que retrataria todos os deuses e todas as estrelas e todos os céus, esse nome seria o Amor!

Flor de jasmim

Fora! Vá, Ben Ali
Agora, quem manda
É a flor de jasmim
Que, no asfalto queimado
Subiu ao planalto
Sem chão, sem vez
Não morreu em vão
Abriu caminho pra luta
Pra uma grande revolução
A Dita, que era dura
Queira Alá que amoleça
E o povo árabe, logo se fortaleça! 

19 de janeiro de 2011

Piscina de papel

Quero escrever folhas de papel esvoaçantes
E colher frutos em meu jardim
Quero um rio de gotas douradas
Para deixar para meus netos
Ou, então, uma piscina de espinhos
Para quando não mais existirem rosas
E muito menos espinhos!
Natureza, dinheiro, papel
Tudo é tão nada
E todo mundo nada nessas projeções engessadas
O poeta, coitado, sonha em ver a lua
A menina de vestido vermelho,
só quer pintar o cabelo da boneca digital
os sonhos das crianças não são mais os mesmos
porque os adultos já deixaram há muito tempo de sonhar
apenas nadam em piscinas de folhas de papel,
pra morrer num lago sem peixes!

José.Raimundo.João

José. Raimundo. João.
José de novo
Põe o pão
Antônio lava o chão
Raimundo viveu em vão!
De novo é tudo sempre,
Igual ao ontem, amanhã pra sempre!
Gira o mundo,
Cai no mesmo lugar
João, José e outra vez Raimundo
Que o qual não teve escolha
Perdeu lugar na fila
De angu
Subiu, desceu e morreu de fome
Sobrou João e José
Mandou matar um boi
Comeu e teve diarréia
Que donde vem João, mata os home
na hora
João na solidão ficou
De fome não morreu
Mas de tristeza adoeceu
Irmão seu viu a morrer
Boi, canteiro e sofrimento
Seca, chuva
É tudo calento
João não teve escolha
Pra cidade se avançou
Puxou os resto de boi
Sentou no chão pra oiá
Num viu estrela
Nem viu Luá
Viu apenas pássaro preto
A voar
Urubu também tem fome
E cactu não sobrou
João ficou na estrada
Nenhum caminhão passou
Cinco dias se passaram
Cinco noites de chuvão
Como pode Deus fazer
Alagar todo o sertão?

*João virou estrela, junto com seus dois irmão! 

18 de janeiro de 2011

De quando se acaba o platônico

Quem nunca viveu um amor platônico, que atire a primeira pedra. Tantas projeções há em um coração apaixonado.  E quantas expectativas se esperam do amado. O amor platônico só é amor porque é platônico. Se assim não fosse, nem sequer seria amor – seria amizade.

O platônico não deseja. Não sente. Apenas imagina. Imagina o amor e pelo imagético sustenta toda e qualquer hipótese. Não pede carne. Muito menos a palavra. Quer no mínimo olhar. Um olhar. E assim, imaginar. O platônico é onírico. Sonha, devaneia.

Sim, é também redundante e de toda sua redundância sustenta seus pensamentos. Mas, quando de erótico se torna pornográfico, acaba-se também o amor, pois na verdade ele nunca existiu – foi doce fruto de uma criativa imaginação, que, de tanto imaginar, deixou de agir.

9 de janeiro de 2011

Engula mas não peque

Desenho de Amanda Balice
Engula-me como um índio antropofágico, engula-me como um operário é engolido pela máquina. Quem sabe dentro de alguém eu consigo me sentir de fato viva em meio a essa multidão que já me engoliu (...)

7 de janeiro de 2011

Sexo digital

- Logo vão fazer filhos online.


-Vai saber!


-Camisinha virtual por um real!


- Ah!Mas, antívirus eu já tenho.

Sofia: melhor amiga do homem

Sofia ia na ilha
Sofia via na via
Sofia não sabia
Que seu nome era
SABEDORIA
Mas, se tão sábia
era Sofia
Por que seu rabo
ela mordia?
(Para ganhar uma lira, latia Sofia)

Modernidade do faz de conta

Leite radioativo. Café  elétrico. Será que a bolacha ainda é de água e sal?

4 de janeiro de 2011

Um amor de molotov

Pular degraus  apenas acelera a lentidão do corpo em querer logo chegar ao topo, porém,  difícil é entender que o fim da escada chegará de qualquer modo, assim como o grande amor, que de tão grande explodiu e se dissipou, feito uma rosa de molotov.

Dos sonhos que viram bois sob minha janela

Percebi que o sonho acaba quando, com ele, acordo para o café.
E mais tarde, quando novamente eu me debruço
E a insônia não mais me abandona,
Eu penso que era melhor não ter tido fome
E que, na verdade, relógio é algo inventado
E que eu não mais preciso acordar quando o Sol raiar e dormir quando a Lua chegar
E que não importa o nome que eu vou dar aos meus bois,
Pois meus bois não são bois,
Só são os cães que agora latem sob minha janela
Preferia, hoje, não ter tomado café.