30 de março de 2011

Nos tons da winding road

E eu, agora, já nem me lembro de notas desafinadas do passado. E nem fico remontando breves e semi-breves intenções, que não me levariam a lugar algum. Sinto apenas o tom de novos tons – verdes, vermelhos, azuis – são tantos. Aprendi a escutar os caminhos e a sentir novas vibrações.Olho pela fechadura o imenso céu lá de fora, propondo-me que esse é só o começo de uma longa e sinuosa estrada a ser percorrida - a nossa.

28 de março de 2011

Fumaça, o cão dançarino

Minha avó nunca deixou que nossa casa ficasse sem um cão no quintal. Morria um e ela logo  pedia  ao meu tio que improvisasse outro. E essa tradição já dura no mínimo uns 50 anos. Eu mesma vi três cachorros passando pelo meu quintal. O Boneco, que viveu 15 anos. O Rambo, que foi atropelado e andava se arrastando e morreu em 2002 e o que, pra mim, foi o mais especial, o Fumaça, morto no ano de 2008. E é justamente deste que eu, hoje, vou lhes falar.

Assim que o Rambo morreu, minha avó ficou desesperada por outro cachorro. Pois, segundo ela, eles são seguranças da casa e avisam o que está acontecendo na rua. Foi aí que meu pai lembrou de um amigo, o Gringo, que morava dentro do cemitério de Perus e que tinha acolhido um cão que havia sido atropelado. Gringo estava á procura de uma boa família para o canino. Porém, só aceitava doar o cachorro com uma condição: não mudar seu nome, que ele batizara de Fumaça.

O Fumaça chegou a minha casa no começo de fevereiro de 2002. Estava cheio de pulgas. Eu ajudei minha mãe a retirar e ele ficou limpo em um dia. Logo o levamos ao “ Cabeça de Bagre”, um pseudoveterinário do meu bairro, que aplicava as primeiras vacinas da vida de um cão. Neste dia o Fumaça ganhou uma carteira de identidade, com direito a ter até uma mãe. Eu. Mãe solteira de Fumaça Moreira André.

Nessa época, eu ainda estava na quinta série e conseguia me dividir entre os estudos e o Fumaça. Contava tudo a ele, principalmente dos meus primeiros vestígios de amor. Às vezes, eu tinha a impressão que ele era algum antepassado meu, pois me escutava com tanta devoção. Ah! Sem dizer que ele sabia distinguir as patas quando eu pedia. Se era a esquerda ele oferecia a esquerda. Ele era também um ótimo dançarino, o melhor.

Certa vez, em 2004, o danado do Fumaça resolveu pular na casa da vizinha. Pra quê! Lá havia dois grandes cães, o Duque e o Neném, que não aceitavam de jeito algum dividir o espaço que ocupavam. O Fumaça voou para aquele quintal, para as bocas e garras dos anti-sociais cachorros.  Meu pai foi tomado por um grande desespero, pulou o muro do fundo de nossa casa para salvar o nosso querido amigo. Foi uma luta, pois não se podia bater nos outros dois, pois a dona deles era uma pequena menina que, assim como eu, precisava de seus cães.

Eu logo peguei uma imagem de Santo Expedito, o Santo das causas urgentes e fiz uma promessa a ele e também a Nossa Sra. Aparecida. Se o Fumaça fosse salvo, eu levaria uma foto dele à igreja dos dois santos. Que promessa de criança. Mas, como dizem, crianças são anjos e anjos estão mais perto de Deus. Só sei que minha prece foi atendida e meu cãozinho saiu são e salvo. Com uma mordida na orelha, apenas. Ufa!

O tempo foi passando, e meu menino foi virando um homem. Ele já tinha 7 anos, e eu, que o adotei quando estava na 5ª série, agora ia prestar o vestibular. Eu estudava 10 horas por dia, fazia o ensino médio e técnico. Já não o via todos os dias, pois chegava muito cansada. Mas, sempre que chegava, às 10h da noite, dava a ele pelo menos Boa Noite. Mas  não dançávamos mais juntos e ele já nem sabia dos meus medos e segredos.

Numa manhã de Julho de 2008, o Fumaça acordou e não correu pelo quintal. Todos acharam estranho. Ele era tão enérgico. Ficou lá quietinho em seu canto. Meu pai o levou ao “ Cabeça de Bagre” e ele recomendou algumas injeções. Eu me sentia culpada por ele ter adoecido. Sentia que a minha ausência o tinha deixado naquela situação. Os esforços por sua melhora duraram em média duas semanas. Eu via aquele corpo quieto, deitado sem levantar e lembrava-me de nossas danças. De seu jeito de me olhar atencioso, como quem quer dizer algo e não sabe como. É. Ele não sabia falar, mesmo. Mas me entendia melhor que qualquer humanóide. Era o que eu sentia em seus olhos.

No dia 22 de julho o Fumaça foi para o céu dos cachorros. Eu nem acompanhei seu enterro, no fundo do meu quintal. Foi melhor assim, pois guardo comigo a imagem dele vivo e seus olhos atenciosos. Fumaça, saudades dos seus latidos ensurdecedores, enquanto eu falava ao telefone. Depois de você, eu não dancei mais com nenhum cachorro e nem vou dançar. 

18 de março de 2011

Pirâmide inversa

Ser superior não é ser mais inteligente ou mais remunerado que o outro. A superioridade se dá no encontro do "eu" com o outro, de forma que meu eu não exclua o outro e nem a mim mesmo. Ser superior é avançar a percepção que se pode ter da necessidade de escutar  e, não somente, da vontade de dizer por difíceis palavras aquilo que você imagina que representa.

Admiro a superioridade de alguns que, mesmo sendo superiores não se deixam engrandecer por isso. A maior remuneração é, a meu ver, o ato de servir o outro em sua maior plenitude e não o minimizar por conta de pirâmides erguidas pela própria estrutura oprimida.

Não há pirâmide que resista se não houver um alicerce. Vossa Excelência é só uma idéia solta pelo ar, se não houver minhas mãos para erguê-la. Essa sua verborragia ostensiva é só  uma luta de substantivos e advérbios que nada dizem e, muito menos sabem o que é o sentir (...)

14 de março de 2011

Q- será -Q seria Q - será


E será que o será deixará de ser apenas o futuro imaginado no presente ou se diluirá entre palavras e projeções de notas que, hoje, me ponho a ouvir? 
Eu ainda não sei. Nem sei dizer, escrever ou mesmo cantar. Se ouvir é o sentido que dá sentido ao que escuto, eu digo que estou sentindo. O que, neste momento, elimina bem o pensar.

12 de março de 2011

Eu-eu

Tem dias  que a gente liberta o eu-lírico que existe dentro de nosso peito e o deixa em paz, amém. E é nesse dia, meu irmão, que sem eu-lírico, sem pseudônimo ou qualquer explicação poética, você deixa todas suas idealizações filosóficas e conceitos pré-estabelecidos de lado, e finalmente  é seu Eu-eu, apenas seu EU. 

8 de março de 2011

Rotare rótulos

Quando tudo para de rodar é hora de rodar em volta de si mesmo, a fim de engrenar novos movimentos. Um dia, eu também parei de rodar. Tudo, então, ficou em seu devido lugar. Cama arrumada e louça lavada. Só eu que não. Rodar e cair. Cair e às vezes se  levantar. Eu rodo, porque rodando eu não chego em lugar algum. Apenas em mim. E é justamente aí que preciso chegar! 

Volans

Ando cavalgando por  entre algumas, tantas, mentiras. E, sinceramente, já não sei mais o que eu posso chamar de sonho ou de realidade. Eu joguei fora alguns sonhos visualizados no passado, mas ainda não o próprio passado. Eu ainda preciso de mentiras pra poder voar ... e voar para poder continuar acreditando em supostas verdades.

1 de março de 2011

Palavras são apenas palavras?

Às vezes sinto que algumas palavras respondem aos meus mais íntimos sentidos. Talvez sejam falsas respostas, assim como meus sentidos também podem me enganar. Mesmo que sejam falsas impressões, estas palavras me sugerem um caminho que eu mesma desconheço.