11 de julho de 2011

Os dedos são as cordas mais duradouras do violão

Sempre me agradou aquele arranhado singelo do violão no intervalo de uma nota a outra. É como se aquele arranhado fosse os sons próprios dos dedos, antes mesmo deles conseguirem atingir as cordas do instrumento.

Pois os dedos também fazem música antes mesmo de se fazer som. E como se os dedos gritassem às cordas, antes mesmo de se chegarem a elas. “ Ei, calma, estou indo”. Ou, como num sinal de cansaço, as arranhassem gritando. "Você já está me machucando".

Mas, os dedos são fortes e nunca desistem de ir ao divã, que são as cordas. As quais são como um divã para os dedos. Somente elas e não mais que elas, conseguem arrancar dos dedos aquilo que  a caneta, tão mais evoluída tecnicamente falando, não consegue. 

8 de julho de 2011

A Morte é (in)sensível

A morte é, na verdade, algo muito sensível( e não insensível).  Nunca vi algo ter tanta sensibilidade , a ponto de saber  o momento exato de pegar a todos de surpresa.

6 de julho de 2011

De quando concretizo ideias de forma idílica

Quando sinto sua falta, eu idealizo minhas ideias e as concretizo de forma idílica, de maneira que apenas você consegue entender. Quando sinto sua falta, eu cerro os olhos, para de novo relembrar o que nunca deixo de esquecer.

Quando sinto sua falta, eu abro olhos, para enxergar as nuvens que se desfazem como gotas d’água pelo asfalto, as quais podem ser as mesmas que  por seus caminhos passaram. Quando penso em você, eu não penso. Eu sinto. E quando sinto sua falta, eu não sinto, eu penso. E percebo que sua falta sim não precisa ser sentida, porque você permanece dentro de mim.

Quando eu sinto sua falta, eu me aperto dentro de mim mesma, para talvez lembrar a última vez que esteve em meu corpo. Para talvez lembrar que venho desconstruído todos  os conceitos que já conhecia sobre o ato de conhecer, sentir e querer.

Quando sinto sua falta, eu externalizo todos os meus sentidos. Paladar. Tato. Olfato.Ver. Ouvir. Para talvez tentar trazer para o lado de fora os vestígios dos teus, que em vez de morrerem, multiplicam-se a cada instante.

Quando penso em você, eu percebo que nunca escrevi uma história tão intensa. E que, talvez, nunca tenha lido nenhuma que me prendesse tanto e me fizesse pensar de (tantos) diferentes ângulos. E nenhuma que me fizesse querer lê-la a cada dia mais e mais. Você é aquela história que me salta aos olhos, com personagens que invadem todos os meus neurônios e me fazem, no meio do dia, fugir de toda a realidade, para viver no mundo que eu sempre quis.

Você é aquele livrinho de cabeceira, que chamamos pelo diminutivo não para diminuir, mas para termos sempre à mostra, para que ninguém possa rabiscar ou levar embora.

É como se o intervalo de tempo que separa uma nota da outra não mais existisse, e todos os tons se dividissem ao meio, unindo-se como  meus neurônios se unem,  quando refletem em meus olhos as vibrações dos meus batimentos. Tornando aquele misto de pupilas saltando aos olhos sem nada ver aos olhos querendo enxergar o que ainda não consigo entender. E, por conta disto, eu ainda fico aqui escrevendo. 

"Quando penso em você, só penso em você".

1 de julho de 2011

Mim

É como escrever uma página a cada dia, sem saber se amanhã este livro terá continuação. Por isso, às vezes, é preciso resumir, resumir-se, se resumir. Mas, pode também se inventar . Em uma folha de papel ou de árvore. Resumir-me. Inventar-me e ficar, finalmente, perto de mim. Bem dentro. Mesmo se for bem de levinho. Sentir-me, ainda, como aquela velha folha sobre o rio. Só que agora atravessando também mares e marés. Sobre o oceano e por todo ar que por minha cabeça passa. E sonhar voos planos, sem ordens de pousada. Pousar em mim já basta (será?)

Sobre coisas sem sentido

Nada que volta permanece como estava quando se foi. Vai pequeno e nasce grande. Mesmo se, no peito, ainda não caiba tanta " grandeza". Mesmo se o coração  desconheça toda forma de grandiosidade e de ser grande. Pois quer, ainda, ser pequeno. Porque no SER pequeno é que está o querer ser grande. E, ao se tornar finalmente grande, parece que perde toda a arte de viver... que é aquela vontade de  crescer!

Corpo em retalhos

Cubri-me mais uma vez com os retalhos de uma coberta velha. O frio passou e o tremor  se despedaçou pelo chão. A dor permaneceu, como a mais lânguida sensação que se pode ter.Senti aquilo como se sentisse a própria alma. Aliás, a alma verte em dor quando o corpo fala. Parece mesmo que é o espírito gritando, para sair e tomar outros corpos. Mas espíritos não se adentram em corpos fechados. Apenas nos escancarados a todo tipo  de sofrimento, inclusive o próprio sentir.

Um tiro na alma

Se desejar, pode tirar minha alma. Mas, por favor, não retire meus dedos, pois deles sempre resurge um pouco de alma para escrever qualquer coisa , a qualquer modo!