31 de dezembro de 2011

Um valete de copas nas mãos

É preciso continuar lendo os caminhos pelos quais os nossos passos se passam. Sejam rasos, fundos ou largos. Rasos como a calçada que se torna funda após a tempestade. Fundo como o rio que se torna raso, depois da seca. Largo como é essa vontade de continuar alargando o tempo, toda vez que vivo sem tentar manipular o agora. Largo como é o desejo de largar mão desses valetes de paus que teimam em permanecer em minhas mãos, à espera do próximo adversário. 

Bom mesmo era quando a gente sequer conhecia o nome do jogo e chamava o naipe de paus de ‘florzinha’ e o de copas de ‘coração’. Coração vermelho. Agora, as cartas que antes ficavam guardadas na manga já vêm todas à mostra. Vêm todas preparadas para o granfinalle: arrasar os corações de copas. Sim, os vermelhos! Mas também os pretos, azuis, amarelos e aqueles sem cor. 

Não me interessa mais virar o jogo, mas sim ir para o outro lado da mesa. (Colocar-se diante de si próprio e parar de jogar consigo mesmo é tarefa mais árdua que vencer o vencedor). Se é pra jogar, que joguemos com as palavras. As escondidas por baixo dos olhares baixos. As ditas nos verbos que saem dos dedos estralando vértebras. Dê ao presente o presente de nele estar. 

27 de dezembro de 2011

Lux in Cida.dela

Quanta poesia há nas tantas formas de ver,sentir e escutar a CIDA.de.Sinto as imagens,escuto os sentidos e vejo todos os sons. Em nuvens de fumaça que a todo tempo saem dos carros ou daquelas que saem da boca dos fumantes.No bater do relógio ou dos carros da avenida.Do piscar das luzes dos postes ou dos nossos próprios olhos, ao observar tamanha abstração ,mesmo tudo sendo tão concreto.



13 de dezembro de 2011

Linha 3.4, estação nº2

Às vezes sinto que algumas notas vão escorrendo por entre os meus dedos sem que eu, de fato, queira que elas se partam. E quebradas vão. Arranhadas permanecem. De tanto tentar e não conseguir chegar ao tom exato.  

Aí, penso que é hora de novamente encontrar aquela dominante, pra voltar à tônica e, de novo, perder-me por entre novos acordes. Aquela sinfonia de trens passou rápido demais. Eu podia até sentir o baixo soando alto, enquanto do lado de fora os fios de metal faziam o som estridente de uma corda partindo.  E as notas quebradas se foram junto com a partida das cordas, dos acordes, dos sons. A música, assim como toda lembrança infortúnia, permaneceu. Mas sem ninguém pra tocá-la. 



6 de dezembro de 2011

Pedra que rola não cria limo

Há destinos que se entreabrem em meio a portas ainda semicerradas. Estas, na verdade, estão apenas aguardando a pulsação de um impulso a mais, em meio a tantos expulsares. Talvez, é chegada a hora de abandonar os “ex-sentidos”,  as "ex-estradas  tortuosas" e deixar se pulsar por um novo pulso. O que vejo, agora, é só o buraco de uma fechadura. Esta é a imagem do outro lado da parede. Desse muro que teima em separar as ilhas que são de carne e osso. Mas, desse lado da fronteira, a luta persiste e o medo também. Um dia, haveremos de chegar lá. Aonde? “Let It be”. 

Murro em ponta de música

E as palavras, bem diferente da música, continuam a te enganar, assim como o vidro engana a abelha que se arrebate contra ele. E ela morre, sem perceber a virtualidade na qual lhe colocaram. Sem perceber que murro em ponta de faca fura e mata. Sem perceber, mais uma vez, que foi enganada. E a música? Ah, ela diz por si só o que você quer pensar, sentir e, talvez, ouvir.