25 de janeiro de 2012

As veias abertas da minha CIDA.de

      As veias de minha cida.de* ainda permanecem abertas, à espera de serem cicatrizadas. São veias de metal correndo a todo tempo por entre um sangue pisado, sorvendo em água. As células de minha cida.de lutam a cada dia para sobreviver ao caos cancerígeno que as rodeiam. Os braços de minha cida.de já estão cansados de esperar que lhes deem uma mão. As pernas de minha cidad.de já não suportam mais o peso que carregam. A cabeça está a ponto de explodir, mas no peito um coração ainda bate; ainda bate. E bate correndo. Bate com medo, bate nos braços e pernas se esbarrando entre as vias. Bate apertado na veia de metal. Bate dolorido na Cracolândia. Bate desmantelado naquela solidão na multidão. Bate querendo falar. Bate apressadamente por entre ritmos dos pianos da Luz ou da Sé. Sé. Seu Sé. Bate intimo de tantos lugares. Bate sorrateiro. Bate pedindo água e bate vendendo oito pilha um real. Bate na boca entreaberta às cinco da manhã. Bate. Bate. Eles me batem. Mas eu continuo batendo. Eles me matam. E, entre tantos socos, eu ainda bato. Meu coração ainda bate quando passo pelo Seu João e Dona Ipiranga. Ele ainda bate. Até a cida.de, um dia, parar de bater.


*CIDA – Prefixo latino de matar.

22 de janeiro de 2012

Sem tradução

É que tem dias que eu tenho saudade. Saudade pura. Sem sinônimos, sem complementos, sem presença. É que tem dias que eu me permito a sentir-me só, a estar ausente e alheia de todos os outros. Outros abraços, outros beijos e até outros adeuses.  É que tem dias que eu me distancio de mim pra estar em um lugar já dissolvido, esquecido. Primazia contínua de quem já não é primaz ao que sente saudades. É que tem dias que os dias não são dias, é só passado passado a limpo, e versos mal escritos numa folha de papel esquecida, cheia de sentimentos esvaziados por sentidos ausentes. 

19 de janeiro de 2012

Na contramão de mãos alheias


Na invasão de tuas palavras, senti mais uma vez meus sentidos abalados, assim como me abala as manchetes já repetidas. Na confusão destas suas linhas, tão fundas como um pires, eu senti teu descontentamento em entender o que já foi dito tantas vezes. Pelo jeito, o que falta  aí é sentir. Tornar o dito pelo não dito e procurar tuas próprias verdades, não as que já estão em linhas de outrém. Cá pra nós, não te enganes com palavras, elas são apenas espelhos quebrados de sombras pretéritas. Vá, de fato, na contramão de mãos alheias!

13 de janeiro de 2012

Umbigada

Se pra você minha realidade
é
MEU
umbigo, 
Já nem me importo mais!
Esta também é a realidade
De muitos umbigos e ais. 


Umbigos rasos de olhos fundos
Umbigos sujos de pratos limpos
Umbigos cheios de bocas vazias


Se minha realidade é meu umbigo,
Sim, agora eu me importo,
Pois também procuro um abrigo:



Nos tantos umbigos sem ar
Nos  tantos ares sem mares
E , quem sabe, nos umbigos sem pesares. 


Apesar de todo umbigo, 


Minha realidade é meu umbigo. 


Método sem logia

Eu preciso de um método.
Medido. Metrificado.
Cada passo em seu espaço
E cada pasmo milimetrado.


Eu preciso de um método.
Quadrado.
Mas também pode ser triângular.
Balança concisa de um corpo
(ainda)
IrReGulaR.


Eu preciso de um método.
Calado. Invisível.
Feito pedra que não fura
E fruta que logo se amadura


Eu preciso de um método
Derrubado. Atual.
Sem metodologia
Ou orgia gramatical.


Eu preciso de um método.
Onde ninguém se meta
a metido da metalinguagem
intelectual.


Eu (não) preciso de um método. 

10 de janeiro de 2012

El laberinto de la soledad

Depois de nascer e morrer, não há nada mais solitário que o ato de escrever. É tu e tu mesmo!

8 de janeiro de 2012

Moinho de mim

Abraço dado ao ar gelado
Se vai com o tempo
O mar salgado
Cria vela
Vela o morto.

Na madrugada de pedra dada
Tapa-se  a lua com a peneira
Pra ver mais uma vez
Que eclipse lunar
Em costa alta
Faz olhar puro virar penumbra.

E braço e perna vão se embora
Como tudo que demora
Numa rua cochilando
De zóio aberto caindo aos pranto

“Dia desses eu passo lá
Dou um abraço no pai, nas vizinha e tudo mais
Dia desses eu volto aqui,
Vejo ocê, pego minhas coisa e vou sumi”

E depois de abraçar o mundo
Volto sempre pro moinho. 
De pedra. De escárnioo.
Moinho de mim... 
Moído.
Ardido em chamas de fumaça 
caídas naquela praça de desgraça! 



Fome

Como eu amo
Como e amo
Como é amar
Como porque
Tô com fome
de amar