30 de março de 2012

De quando o EU se conjuga em outras pessoas

Sabe quando você vê a foto daquela pessoa que morreu e te dá grande aperto nos olhos e as lágrimas param no coração? Pois, é. Me senti assim, agora. E me sinto assim quando vejo também as fotos daqueles amores partidos, daquela amizade que se esgotou ou do sorriso quebrado ao meio. Saudades de tudo que não está mais amarrado entre nós, sejam eles apertados ou frouxos. A morte, quando chega, transforma o que estava junto em mera 1ª pessoa do pronome pessoal do caso reto. Transforma em EU. Isso mesmo. E EU é sozinho. Eu é ego. Cego. Quando digo EU é porque quero dizer saudades. Quero dizer que: cá estou com saudades de quando pude me conjugar em outras pessoas, seja de casos retos ou oblíquos. Tônicos ou átonos. Saudades de quando pude ser outros pronomes e, assim, alimentar-me de verbos, versos e prosoicas palavras que, agora, já estão soltas em um outro universo. Para onde as coisas vão quando morrem? Não sei. Mas começo a achar que viram versos de palavras escondidas. As palavras nunca morrem, apenas se transmutam.

28 de março de 2012

Sorte no jogo ou jogo no amor?

Eis que a cigana virou para a moça que passava e disse:

- Desejas um pouco de sorte no jogo e um tanto de jogo no amor?

E a moça, mesmo desacreditada de suas próprias crenças, apegou-se em si mesma,  e só em si, e respondeu:

- Desse jogo eu não jogo, nem pego senha. Passar bem!

Foi aí que a cigana largou mão das cartas e das senhas que ainda estavam na manga. Percebeu que sorte na vida não é jogar... É VIVER!

19 de março de 2012

Essa Lua em Peixes com baixa em Ré com sétima

Volto, então, a ser de novo Selenita... aquela jovem senhora velha que, hipoteticamente, habita os recôncavos daquela Lua em Peixes. Aquela mesma que me mantém viva, mesmo outrora me afogando em tantos sonhos. Lúcidos sonhos que já me esqueci.

Não sei. Mas, ainda, não consegui acordar. Estou de pés e mãos atadas, e com um coração subindo pelas paredes. Sei que já acordei. Mas permaneço intacta entre  lenços e lençóis úmidos.  Penso que todo tipo de excreção é uma forma de se esvaziar a alma, pra ela continuar crescendo.  E se liquidando, sinto o peso desse coração, que, a cada dia, se torna mais insustentável.

As vias continuam vivas. Já faz uns ventos que você assoprou por aqui. Já faz umas estrelas que você caiu por ali. Há tanto tempo no tempo, que eu já cansei de esperar o timing dos seus dedos trocando acordes de um trovão. Talvez, se parasse de caminhar pelo RÉ, poderia chegar mais próximo de MI.Mas só talvez. 

12 de março de 2012

Tempo e espaço no passado

Um ano passa. Passa o ano. As horas. 365 dias corridos numa folha na parede. Agora já foi jogada fora. Passou. Acabou. Outras folhas também foram jogadas outra vez. Algumas ainda permanecem na gaveta. Um dia, talvez, saiam da poeira que as guarda. Talvez não saiam nunca mais. Mas durante todo aquele ano, aquela folha foi marcada e rabiscada. Cada dia foi esperado como um povo espera seu messias. Cada semana foi anulada para que o novo mês chegasse mais depressa. Um dia parecia um ano. Agora, um ano parece que foi só um dia. Ufa! Que bom que já acabou. " Boa noite". " Boa noite". Desculpe, mas pra mim já raiou um novo dia e, sinto muito dizer, mas já é tarde, muito tarde." Boa tarde, então?". Até um novo dia! 

11 de março de 2012

A hora e a vez de Vênus

A história de uma mulher, de uma sonhadora, de umas tantas que lutam e vão pra cima. Sem medo. Com fúria saindo por todos os poros, pelos cabelos presos ou soltos. Pelos ventres. Pelas trompas ou seios. Somos muito, mas muito mais que meros corpos passando por uma rua. Somos as carregadoras do mundo, que vai meio apertado em nosso ventre. Mas vai. Continua indo, porque nós, mulheres, o seguramos com força, com garra, para continuar crescendo... Mundo, mundo, vasto mundo? Mais vasto é o coração de uma mulher.

2 de março de 2012

Só sei que nada sei

São cento e quarenta caracteres.
São mil caras estéreis.
Cobertas por pixels cada vez mais reduzidos,
assim como as estrelas se reduzem à claridade humana.

Sou o que não sou de alguma coisa que nem aprendi a ser
As caras ainda estão pintadas, mas os rostos permanecem cinzas
Continuam preto e branco, cor sim, cor não, bem ou mal
Ser ou não ser não é mais a questão, é condição. É a mais pura forma de ser. De estar sendo sem querer.

São cento e quarenta caracteres de caras estéreis
em frente aos pixels pintados de néon
São coloridos de cores falsas,
vindas de uma gente que só se inventa por letras serifadas
de um papel marrom. 

São. Eles estão sãos. Eles são estão.  E eu só sei que nada sei.
Frases soltas e preenchidas. Fiz também meu papel.