Eu queria muito fazer um post bonito falando das minhas
lembranças de criança, quando era dia de São Cosme e Damião. Mas, agora, já
crescida, eu me pego sem tempo. Pra pensar. Pra lembrar. Pra ser, mais uma vez,
aquela criança à espera de doces.
À espera daquela Tia Carmita, que todo ano fazia uma festa
e, mesmo quando a gente não ia, mandava um saquinho cheio de guloseimas: balas,
pirulitos e guarda-chuvinha de chocolate. E, às vezes, a primaiada ainda
brigava, porque um pirulito era rosa e o outro azul. No final, a gente dividia
todos os doces para fazer um barzinho. Eu vendia doces para o meu pai.
Interessante, já que era ele mesmo que trazia as caixas de suspiros quadrados,
daqueles rosas, sabe? E ele subia cansado cheio de caixas de doces de bar. Ah!
A gente chama lá em casa de doce de bar esses doces que são de origem caseira,
como o doce de leite, paçoca de rolha, cocada.Hum. E tantos outros, que
adoçaram a minha infância.
Hoje, acordei e, como de costume nesta data, perguntei se
havia doces em casa. Meu pai falou: "Ah, não existe mais isso. Se der doce
pra criança, hoje em dia, vão pensar que é pedofilia".Triste saber que um
imaginário construído pelas crenças e mitos de um povo pode se transformar em
matéria de programa sensacionalista.
Agora, posso até não ser mais chamada de criança. "Se
trabalha, é adulta", minha avó diz. Mas confesso que continuo esperando
pelos doces de caixa do meu pai. Os bombons da minha mãe. E aquele saquinho de
guloseimas da Tia Carmita, que, infelizmente, eu sei que não irão chegar.
Viva São Cosme, Damião e Daum.
Tem coisa na gente que não muda . Tá guardado na memória,
naquela memória longa, que insiste em permanecer ativa, pra que a gente se
recorde que, independentemente do credo, a nossa história vale muito a pena de
ser lembrada!