14 de dezembro de 2012

Sul-FITE

É que, às vezes, quando você se apaixona por uma folha sulfite em branco, ela permanece em branco. Vazia, em cima da escrivaninha. É triste, já que eu sempre deposito muita expectativa em qualquer folha, até mesmo aquelas que já foram rabiscadas. A verdade é que eu não me importo com o tipo de folha, eu só quero uma folha pra escrever alguma história. A minha, a sua, as nossas.

10 de dezembro de 2012

Ilhados em Cardoso – uma aventura no manguebeach


Reza a lenda que um tal de André, que era irmão de Simão, que conhecia um tal de Jesus, começou a tratar muito bem uma gente que dele se aproximava na praia. Eis que esse André foi virar padroeiro de uma ilha bem distante daqui, mas onde o mar se mistura com o céu, e o céu, meu povo, fica perto, mas muito perto dos dedos de quem costuma contar estrelas ao anoitecer. Vai vendo!

Ilha do Cardoso
Era uma vez umas gentes cheias de vontade: de pisar na areia, de ver golfinho e molhar o dedão do pé . E era uma vez umas vontades cheias de gente: fina, elegante e sincera, que, na manhã daquele 1º de dezembro, firmaram seus calcanhares na praia de um tal de Cardoso, que sequer deu as caras durante aqueles dias.
Malandro, seu Cardoso deixou lá alguns capangas que davam as coordenadas pra onde é que aqueles pés sem rumo deveriam armar seus devaneios.

- Vinte e sete pés, aqui!

- Sim, senhor! Gritaram.

- Com emoção ou sem emoção?

Ninguém respondeu.

- Silêncio dado, emoção vendida! Gritou o capanga, rasgando mato adentro!  “Emoçããããããããão” saiu dizendo!

Amedrontados, os 27 pés descalços foram adentrando por aquela floresta no meio da areia salgada. E um deles, lá do fundo, indagou “Mangue é só no nome, né?”. Mas o homem que ia à frente não respondeu.
E, pouco a pouco, íamos sendo abraçados pelos braços das árvores. Cutucados pelos galhos e observados pelos caranguejos. Muitos. Que iam e vinham, vinham e iam, como a dizer “nhém nhém nhém nhém, sinal fechado pra você, playboy”!

Ponte do mangue

 E, sem titubear, parávamos feito estátuas, até que aquelas filas passassem e pudéssemos seguir o caminho dos fundos. Aquela era a avenida paulista do Manguetown. E os nossos pés eram os carros, que, diferente dos de cá, paravam pra natureza passar.

Ao enfrentar o primeiro desafio, outro mais nos esperava. Uma grandiosa ponte grande. Alta. Tão alta que, se você caísse, iria ser sugado pelos caranguejos infiltrados em seus buracos. E, por isso, todo mundo passava na ponta dos dedos, arrastando os pés e levantando os calcanhares, assim como, mais tarde, iriam fazer ao dançar um forrobodó do outro lado da floresta (en)cantada.

Após armarem seus sonhos, e guardarem seus problemas nas malas, todos foram esbravejar aquela Ilha, que já não era mais do Cardoso ou dos caranguejos que a habitavam. Era nossa e dela nos apropriamos. Nos afundávamos tanto n’água, que parecia um batismo da alma.

E, na noite desse dia, todos já estavam pra lá dos saquês de abacaxi e caipirinhas de morango. Ouvia-se rojões. Soltava-se fogos à doidado. E o povo todo ia à loucura, enquanto as rabecas do fandango iam surtindo efeito naqueles que tinham ouvidos nas solas dos pés e remelexo no meio da cintura.  Era um tal de quebra-quebra  pra lá. Quebra-quebra  pra cá, até que uns joelhos não agüentavam mais.  Mas esses mesmos joelhos tinham motivos de sobra  pra se ter mais fé. Seja para observar iscas e anzóis, daqueles Andrés, Pedros e Tiagos que pescavam  no mar em frente, ou apenas para comemorar. Mesmo não estando tão famintos ou curiosos, continuavam a olhar o mar escuro. E olha que o mar escuro daquela noite trazia o medo lado a lado, mas, logo, transformava-o em corais mais coloridos.

VALEU A PENA, Ê, Ê! VALEU A PENA, Ê, Ê!

Eternamente, pescadora de ilusões.

De Selenita para a galera da TRIP para TODOS! 

Texto realista-fantástico-doidera, totalmente inspirado em viagem à Ilha do Cardoso, dezembro de 2012. 

4 de dezembro de 2012

Oração de versador

Em nome do poeta, do pseudônimo e da palavra. Amém.

Sinal (quase) fechado


- Mas como vai a vida, Cara Amiga?

- A vida, Caro Amigo caro, anda como aquela velha folha sobre o rio. Mas, agora, com ventos mais ligeiros, às vezes, até ventanias e furacões. Mesmo assim, anda leve. Anda solta. Noutras, anda com vontade de se fixar numa boa árvore. Que traga sombra e firmeza. Mas, quando isso acontece, sempre vem uma nova ventania que a leva pra outros rumos.