22 de dezembro de 2013
Dos amores platônicos, os melhores foram os aristotélicos
Dos amores platônicos, ficou com os aristotélicos. Cansou de devanear sobre as cartas, fotos ou sorrisos nas entrelinhas. Queria mesmo era história completa. Com versos, traços e infinitas versões.
13 de dezembro de 2013
Verbetempo
De tempo em tempo, uma nova palavra se faz viva nesse curto
vocabulário. E, assim, ela vai aparecendo em cada pequena frase ou grande
poema. A da vez é o tempo e todo o peso que esse verbete traz. Tempo de ir.
Tempo de vir. Tempo de ficar. Tempo de estar. Tempo de mim no tempo. Tempo de
ter tempo mesmo sem tempo.
Uma carta cheia de nós
Eu sempre quis. Projetei. Fiz sonhos e idealizei. EU deixou
de ser apenas o pronome pessoal de um caso reto para se tornar também o nós de
um caso oblíquo, mas cheio de certezas. Já nem quero dizer “Eu te amo”, se é
NÓS que nos amamos. Se é nós que vamos correr por entre veias e células esse
amor. Não sou apenas eu. Sou também tu. Com todo teu corpo e espírito,
entrelaçando-se e se dissolvendo por entre o meu, o nosso. E seus olhos
dizendo, a boca já dissolvendo a luxúria dos meus sentidos todos. E tudo sem
aquela sensação de jogo vencido e acabado. Tudo com o ritmo de seu tempo soando
e suando em meus poros. Movimento de notas musicais em uma escala infinita, de
um amor também sem fim. (De um momento escorrendo por entre as pernas). Um
toque harmonioso como é a formação das tríades maiores. Tão fartas, assim como
tem sido meu amor por você.
Banho-maria
A primeira vez, ela cozinhou em banho-maria. A segunda,
deixou queimar. A terceira, esqueceu-se até mesmo das cinzas. Abandonou os
copos, os pratos e tudo que já não lhe descia goela a baixo. Naquele dia, já
não havia mais indigestão.
Debaixo do tapete
Tentei fazer com que a poeira do tempo sucumbisse por
debaixo do tapete da minha memória. Mas bastava esbarrar com a mente nesse
chão, que eu logo recordava que ali tinha muito mais que chão, muito mais que
tapete. Ali na verdade sucumbia um coração.
Entre nós, só laços
E, em meio ao caminho, a calçada estava quebrada. De um dia
pro outro, ela se desmoronou. Virou terra outra vez, até nascer uma flor, que
logo será morta por um tanto de concreto. E aquele estreito bar, já não existe
mais. Ficou lá o primeiro olhar, o primeiro toque, o primeiro beijo. Mas,
calma! Eis que a calçada de nossos caminhos pode, uma vez mais, se refazer e
aquele bar se reabrir. Não será mais a mesma calçada, não serão mais os mesmos
os donos de bar, não será mais o mesmo rio e muito menos os mesmos sapatos.
Seremos outros. Renasceremos outros, mas seremos nós e, quem sabe, perceberemos
que o que precisamos mesmo são de laços, não nós.
Apartheid-te
Apartheid-te, coração. Deixai de lado o que é só um lado.
Abandonai os versos pretéritos e as sílabas deixadas no largo lago da memória.
Apartheid-te, coração. Esquece a aura, a náusea, a vertigem. E te concentra na
ação, não na cor, coração. Apartheid-te, coração. Separa o joio do trigo, a
luva da mão, o sentido do verso, o olhar da atração. Apartheid-te, coração, que
o outro lado da lua também já se apartou. Apartheid-te, coração.
(Re)ações adversas
Fotos. Fotos. Milhões de fotos escorrendo pelos olhos.
Milhões de palavras. palavras. palavras. Repetições. Poucas ações. Quem se é.
Quem se foi. Quem iremos ser. Ter. Ter. Um coração bate choroso. Nesses dias,
os olhos sempre deixam escapar umas águas sem jeito. E, de repente, lá estamos
nós, outra vez, rodeados de urubus sentados no cume de uma árvore, na beira de
uma estrada de ferro enferrujada. E quantas palavras. Não dizemos, não
conseguimos exprimir. Espremer. Se mexer. Me aperto, me soco entre muitos socos
de quem me soca e pede desculpas. Um tanto de histórias ficaram na rua de trás
do saguão, do balcão, do vão que separa um plataforma da outra.
Concreto amor
te amo na realidade dos meus dias
infernais, alto astrais
te amo no chão que se faz de concreto, misturado aos meus
pensamentos
surreais
Assinar:
Postagens (Atom)