8 de julho de 2014

Saudosa solidez

Peço um tanto de solidão
Pra solidificar minha memória
e fazer dela uma solução concreta.

Peço também ombros e ouvidos
Pra me livrar dos buracos
que, agora, preenchem estes meus vazios.

Peço música
e dessa não abro mão
nem nos momentos de companhia
tampouco nos de solidão.

Os desafinados e os corações

Aprendi a conversar baixinho. Importando-me menos com as respostas dos lábios e mais com as que estão aí, guardadas no lado esquerdo de teu peito.Descobri que minhas canções desafinadas caminham lado a lado com o compasso acelerado de seu coração. Enquanto o meu, apertado, fica só de soslaio, esperando ansiosamente que o mi menor que me entristece logo se alongue e vire o Sol aumentado de uma nova música.

Nervos de aço no chão

Andei procurando um jeito de dizer essas palavras. Experimentei uma a uma, para que tudo coubesse entre as sílabas, entre as vírgulas, entre o tempo que me parece escorregar dos dedos. Andei procurando um modo de juntar as energias do mundaréu e jogá-las todas nesses nervos de aço, mas minhas mãos não suportam metade de suas, nossas dores. Andei, andei e continuo vagando nos dias que correm, nas noites que não se findam. E no meu caderno sem margem, todas as letras viram mortas; todas as folhas se tornam secas. Em meus sonhos, só alucinações de um presente passado para o futuro de amanhã de manhã.

O choro das vuvuzelas

Lá fora, o caos, a greve, a copa. Cá dentro, a aflição, o medo, a angústia. Não existe revolução mais difícil do que a da própria sobrevivência. Andar com fé eu vou, que a fé num costuma faiá!

Fluído

Tô deixando pra trás as águas paradas de dentro de mim.

Sem pena

E dá medo. Medo de crescer sem ter penas. Sem ter pernas.

O trem que se atrasa

Vez ou outra o peito ruge
Rude
E quem vai ou quem fica
É só uma questão
do trem que se atrasa

Dor de cotovelo

E cava. Cava fundo a ferida da mente descuidada. E destampa com as unhas o pseudo curativo que outrora aliviou. Não tem remédio que cure dor de cotovelo.

dedos da mente

é preciso escrever para aliviar os dedos da mente.

Vomifalar

A sorte, ou azar, é que meu coração ainda fala mais alto do que as palavras que tenho vontade de vomitar.

Sobre a virada cultural, apropriação do espaço público e enquadros sem sentido:

Sempre me encantou a ideia da Virada Cultural. Momento que todo mundo ocupa as ruas, sem distinção de classe, cor ou credo. Antes, eu era uma criança que via isso pela TV. Hoje, uma jovem que faz questão de olhar a programação e pular de palco em palco, com aquela sensação de que é possível, pelo menos um dia, andar a pé pelo centro de São Paulo; andar de trem e metrô por 24h, já que nos outros 364 dias do ano, nós, que vivemos nas bordas da cidade, temos que voltar antes da meia noite ou depois da cinco. Nesse dia de virada, podemos desfrutar do transporte público e fingir que nosso direito de ocupar a cidade existe. É o dia de ver os meninos todos gritando "Vai Corinthians!" na estação República, como símbolo de uma liberdade inexistente nos outros dias do ano. É dia de ver a cidade suja, sim. De ver, por vezes, casos de violência também. Afinal, diferente dos outros, nesse dia há gente ocupando as ruas. É claro que há um grande percurso para entender que a cidade também deve estar limpa, que os ânimos devem se conter, mas tudo isso que os jornais pregam como pontos negativos são resultado de algo positivo, que é a pluralidade. Caso ela acontecesse todos os dias, talvez o lado ruim nem ocorresse mais. Mas uma outra coisa que muito me chamou a atenção em meu passeio de ontem, é a forma como a polícia aborda os mesmos meninos que neste dia podem viver o centro. Me chateia. Me dá nojo saber que é possível julgar alguém pela roupa, pela cara, pelo sapato que veste. E foi exatamente isso que vi ontem. Vi um mundaréu de gente indo e vindo, mas apenas alguns meninos sendo encurralados em paredões, onde homens fardados invadiam seus corpos sem nenhuma explicação. Quais são os critérios disso? Em meio a tanta gente, por que dez são escolhidos? Minha covardia, no entanto, me impediu de barrar esse tipo de atitude, deve ser por isso que agora eu as escrevo aqui. Por essas e outras que eu me junto aos meninos da República, pois o eco de nosso grito ainda é baixo perto das atrocidades que vivemos.

17 de abril de 2014

21 anos de solidão na multidão

Sentou-se ao meu lado em prantos. Chorava, assim como ocorre aos novos, quando têm fome. Aos velhos, quando sentem saudade. E o pranto descia em seu rosto moreno, marcando ainda mais seus traços largos. Todos cheios de caminhos e lembranças, que naquela viagem de trem me iriam ser contadas. 

Sofria de morte antecipada e de saudade mal diluída. Não era a lembrança de um amor, tampouco a falta de um espaço concreto. Era, simplesmente, a solidão. Aqueles tantos anos de soldão que levava consigo debaixo dos braços.

Era tempo demais pra tão poucas mãos, tão pequeno coração. E aquela solidão na multidão fazia com que seu pranto, agora, começasse a ser sugado pela pele da face. Mais uma vez, a solidão iria voltar de onde veio. De onde ela até tentou sair, mas num eterno retorno, insistiu em ficar.

18 de março de 2014

Os vazios de mim

Ecoa em meu peito quente
Dilacera minha mente escura
Estremece minha zona confortável, estável,
Esse vazio de mim.

Romance

A vida é muito efêmera para romances, por isso escrevo crônicas.

5 de março de 2014

A vida é chorosa

Uma vontade de chorar invade essa minha alma lascada. Uma grande vontade de saltar água dos olhos vive constantemente dentro de mim. As contradições, sempre elas, saltam diante d emeus olhos e esses não têm mais nada a fazer, senão chorar. A vida, minha gente, é chorosa.

Teatrem

Cada porta que se abre de um trem se assemelha a uma cortina de teatro. Uma cortina de ferro, pela qual entram diversas personagens. Das mais simples às mais caricaturais. E há, também, aquelas fixas. Como um de jávù, todos elas estão ali, pra te lembrar que você está fazendo de novo, e outra vez, e uma vez mais o mesmo percurso que ontem já havia feito. E nesse palco sobre os trilhos há um balanceamento notável. Nunca se tem mais gente de um lado do que do outro. Sempre tem muita gente em todos os lugares, janelas, portas ou até na parte de cima da carcaça de ferro. É impossível flutuar feito surfistas. No trem não se cai, a multidão te esmaga antes. É possível até mesmo dormir em pé, ancorada a corpos desconhecidos, que também estão dormindo. Todos nós somos sonhadores de olhos abertos e pés amassados. Mas a vida, mas a vida tá na bolsa, que cada um carrega junto a si. A vida tá no banco, conquistado a duras penas, socos e pontapés. A vida tá no semblante da mulher cansada que ainda chegará em casa para fazer o feijão. A vida tá nas mãos calejadas do pedreiro que atravessa a cidade em duas horas. A vida está na moça de salto agulha e camisa social que leva o chinelo na bolsa pra depois subir o morro. A vida está na mãe que amamenta o filho nos bancos destinados a ela. A vida está no evangélico que aumenta a voz pra dizer sua palavra. A vida está no moço com o braço amputado pedindo esmolas. A vida está na água, oito pilha, amendoim ou salgadinho a um rea. A vida está no chão servindo de assento. A vida está nos celulares que impedem todos de se olharem, quando estão uns em frente aos outros. A vida está no sorriso de canto, inesperado, de quem ne verdade precisava gritar. A vida está na mulher que, todos os dias, leva pelos braços suas filhas com down e pede uma ajuda, moço. A vida está no salgadinho da marreteira pisoteado pelo seu polícia. A vida está no ser sozinho em meio a multidão. A vida está na voz distante, longínqua, do maquinista que se abstém. A vida está onde sequer imaginam que há vida. (h)Á vida. Jéssica Moreira

Menino do trem

O menino de, no máximo 11 anos, entra no vagão. Em suas mãos, um pacote de balas. Nos lábios, uma repetição de palavras. "Balinha um real, balinha um real". Caminha; ele, suas balas e suas palavras, de ponta a ponta do vagão enferrujado. Até que, no meio da balinha, no meio do 'um real', ele para um segundo. Os olhos se fixam naquilo que o cara a frente carrega em mãos. "Muito louco esse jogo". O sinal toca. As portas se abrem, ele parte correndo para chegar até o outro vagão, enquanto o jogo fica pra trás e ele continua sua sucessão de balinhas a um real.

Relíquias

São rastros de relíquias misturadas ao tempo que sobrou dos meteoros
Eu sentada naquela escada,
Achando que  ela, Lua, lá
Que ia embora,
Enquanto era eu que me movia,

Sem saber quais passos dar!