tag:blogger.com,1999:blog-41384225929488652132024-03-13T21:46:14.307-07:00Cá pra nósNão é preciso complicar para dizerSelenitahttp://www.blogger.com/profile/00122599031853200550noreply@blogger.comBlogger275125tag:blogger.com,1999:blog-4138422592948865213.post-6076442541689806952016-03-29T08:17:00.002-07:002016-03-29T08:17:07.866-07:00Os meninos de lata também vão de trem<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Ferro bruto. Bruta a vida, do menino que pinta de alumínio a face esquecida. No vagão, vagueia cambaleando por entre as tantas gentes, as tretas. Moço, dá um níquel, também de alumínio, nas mãos do menino. Cinquenta centavos, um real, esse montante é pro natal. Paro, pergunto seu nome, sua idade, o sorriso se abre pela metade. Pequeno no tamanho, grande na fala, "sou do tamanho daquilo que sonho", já dizia Fernando. E no outro dia, vejo de novo, os meninos latas, entregando, pouco a pouco, as moedas enferrujadas por um hambúrguer no bobs, um canudinho, uma coca em lata.</span>Selenitahttp://www.blogger.com/profile/00122599031853200550noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4138422592948865213.post-66414225945542718742016-03-29T08:14:00.003-07:002016-03-29T08:14:57.956-07:00when I find myself<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Eu me encontro. Na música que chega de fininho, inundando a rua, convidando as gentes todas a parar. Eu me encontro. Nas projeções que passam por meus olhos, indo e vindo lentamente, daqueles prédios sem começo, nem fim. Eu me encontro, no menino que lança o peão ao alto pra vê-lo brilhar. Eu me encontro, nas mãos dadas, nos beijos roubados do casal em minha frente. Eu me encontro, nas crianças dançando suas valsas livremente, sem medo, sem regras, no meio da avenida. Eu me e</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">ncontro. No bêbado deitado no chão do trem tentando entender por que o chamaram de pagodeiro, se ele nem gosta de pagode ( mesmo eu gostando de pagode) . Eu me encontro na estação que chega, nas portas que se cerram e no próximo ônibus que me leva até o morro. Eu me encontro em cada canto dos cantos que percorro, constantemente, e, quando assim convém, Eu também Te Encontro, mas sem nunca deixar de me encontrar antes</span>Selenitahttp://www.blogger.com/profile/00122599031853200550noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4138422592948865213.post-66147729161522969332016-03-29T08:14:00.001-07:002016-03-29T08:14:29.487-07:00histórias de trem: o amor, ah, o amor<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Hoje, em histórias de trem: o amor, ah, o amor</span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Naquele dia frio, a incerteza permeava seus sentidos todos. Não sabia se permanecia atrás da janela, olhando a rua passar, ou se pegava o trem, com destino a qualquer lugar. Ao chegar à estação, perguntou ao primeiro guarda qual seria o primeiro trem, pra qualquer cidade, onde não houvesse ninguém. . Andou, a esmo, pela beira do porto, sentindo os ares dos novos mares que a ela se apresentava. Ouviu, ao fundo, um sax que tocava b</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">aixinho, feito prelúdio, dos encontros que estariam por vir. Após sugar a fria beleza que ali se instalava, botou a mala sobre as costas e, cabisbaixa, partiu pelos mesmos trilhos que dantes havia passado. Enfiou-se dentro de seu casulo, seu casaco preto escondia o brilho, dos olhos, do riso. Não imaginava, sequer passou em sua cabeça, que as estações reservam surpresas que nem os maquinistas imaginam. Ele apenas entrou. Sentou ao seu lado, com seu ar tímido, seu olhar doce e pairou, pairou olhando o infinito. Ela, não sei como, despiu-se do medo, da vergonha permeada pelo capuz que a envolvia e resolveu, repentinamente, questioná-lo da origem de uma palavra que flutuava sem sentido em sua mente. Ele, sem pestanejar, cedeu: a palavra, o sentido, o riso, um cartão e saiu pela próxima estação.</span>Selenitahttp://www.blogger.com/profile/00122599031853200550noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4138422592948865213.post-35632821163920197172016-03-29T08:13:00.003-07:002016-03-29T08:13:47.892-07:00memórias dançantes<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Vou pegar essa saudade</span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Colocar numa caixinha de música</span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">E dançar com as memórias</span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">de você e eu.</span>Selenitahttp://www.blogger.com/profile/00122599031853200550noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4138422592948865213.post-1780265237899409232016-03-29T08:13:00.001-07:002016-03-29T08:13:18.855-07:00just in time<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Passo o passo</span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Acelero, aperto os dedos</span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Nos ovos, em nuvem</span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Em cacos</span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Passo o passo</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;"><br />Nenhum salto a mais<br />"Just in time"<br />But I know, it is not mine<br />Esqueço a vez<br />Dos jogos, dos blefes<br />Escancaro meus reis<br />Essas peças-quebradas-cabeça<br />jogadas noutro chão<br />Não estão em minha mão.<br />Continuo, "I keep in my way"<br />Eu, eu mesma, just one more day!</span>Selenitahttp://www.blogger.com/profile/00122599031853200550noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4138422592948865213.post-16033200746512689632016-03-29T08:12:00.001-07:002016-03-29T08:12:46.334-07:00coração-chiclete<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Meu coração é feito chiclete. O medo é que ele, uma hora dessas, estoure!</span>Selenitahttp://www.blogger.com/profile/00122599031853200550noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4138422592948865213.post-44111026609527579952016-03-29T08:11:00.004-07:002016-03-29T08:11:52.361-07:00laços avulsos abertos<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">isso vai, assim, sem que precisemos dizer</span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">palavra</span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">transborda sobre aquilo que éramos até</span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">passado pretérito imperfeito</span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">presente pulsante de nós</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;"><br />laços avulsos abertos</span>Selenitahttp://www.blogger.com/profile/00122599031853200550noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4138422592948865213.post-38950134153098650962016-03-29T08:11:00.002-07:002016-03-29T08:11:17.992-07:00as coisas findas<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">é triste. é triste e bonito. é triste e bonito ao mesmo tempo, tudo que é triste, tudo que se esvai sem dizer que já foi. mas há beleza nas coisas findas, sempre há, há de ter.</span>Selenitahttp://www.blogger.com/profile/00122599031853200550noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4138422592948865213.post-31656849063359525732016-03-29T08:10:00.001-07:002016-03-29T08:10:23.176-07:00querência<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">"Você me dá querência deslimitada"</span>Selenitahttp://www.blogger.com/profile/00122599031853200550noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4138422592948865213.post-28382767975652255142016-03-29T08:09:00.002-07:002016-03-29T08:09:43.628-07:00pretéritos imperfeitos<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Não guardo palavra, não. Faço vivo todos os pretéritos imperfeitos de mim. E faço poesia, enquanto o mundo cai . O coração não para de bater</span>Selenitahttp://www.blogger.com/profile/00122599031853200550noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4138422592948865213.post-17534191940053824362016-03-29T08:08:00.002-07:002016-03-29T08:08:35.316-07:00que brado! <span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">juntei estas estas gotas de mim aos galhos - que brado! </span>Selenitahttp://www.blogger.com/profile/00122599031853200550noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4138422592948865213.post-19861871610360959282016-03-29T08:06:00.001-07:002016-03-29T08:06:01.880-07:00casa alargada<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">De repente, tudo na casa se alargou. Os cômodos se transmutaram. Eram galpões cheios de vazio. E o silêncio - o silêncio alargava tudo - só não o estreito aperto do sim-não que reinava a sala naquela tarde. Não havia um canto da casa, nem grito, nem tom, que o coração não se estreitasse. Só havia a casa agora, tentando se sustentar em suas velhas vigas, coberta por suas velhas telhas, no seu velho quintal.</span>Selenitahttp://www.blogger.com/profile/00122599031853200550noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4138422592948865213.post-46456139852053344392016-03-29T08:03:00.002-07:002016-03-29T08:03:24.042-07:00Prazo de validade<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Mas que coisa, essa vida é um misterioso causo de prazo de validade. A gente já nasce sabendo que vai acabar. E, com medo de se acabar na gente mesmo, é que nos eternizamos nos outros. Sempre na esperança de deixar o que é fim, aqui, um começo lá. E demos adeus ao que aos deuses já pertencia. Cantamos nossos ritos, evocamos nossos eus em nossos rituais. E, descobrimos, aí, que somos todos formados de partidas particularizadas dentro de cada ida que fica em nós feito saudade. Eu sou a filha da falta, me lembrando a cada tempo que a música só se faz viva por ser movimento e pausa. Vírgula e palavra corrida. Sonho e despertar. Depois de um grande hiato, você descobre que é preciso deixar espaçar, pra, então, poder preencher.</span>Selenitahttp://www.blogger.com/profile/00122599031853200550noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4138422592948865213.post-15548812023051139502015-12-13T12:08:00.001-08:002015-12-13T12:08:17.750-08:00O menino, a pipa, a tia<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Daqui da janelinha grudada à antiga porta de madeira, vejo o tempo que corre na rua pelas pernas do menino que acabou de perder a pipa; pelas mãos que não se cansam, nunca, de desbicar cuidadosamente a pipa que vai, dançante, no céu. Até que um outro moleque chegue, corte, derrube, o sonho pairado no ar, que tem tido, nos últimos dias, um destino certeiro: o quintal azul. "ô, tia, pega a pipa que caiu ali pra mim?". "Uma caixa de chocolate de natal, então". "Demorou, tia", e sai, sabendo que, em 5 minutos, volta gritando.</span>Selenitahttp://www.blogger.com/profile/00122599031853200550noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4138422592948865213.post-43294237279450585122015-12-13T12:05:00.001-08:002015-12-13T12:05:27.518-08:00Histórias de trem: o equilibrista<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Hoje, em histórias de trem</span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">"Você se equilibra bem", disse, meio baixa, uma voz que vinha do meu ombro direito. "É a necessidade, moço". Ser baixinha no trem lotado exige certas habilidades. "É só olhar para um ponto fixo e manter o joelho flexionado, na posição neutra. Pronto". Tentou uma, tentou duas. "No trem eu não consigo, mas eu conseguia me equilibrar quando andava a cavalo na minha cidade natal, mesmo baixinho, eu não caía, acredita?". E eu, que nem dou corda às prosas trenziárias, perguntei se ele ainda continuava se equilibrando em meio à correria de São Paulo. "Sim, sim, vou ali no Parque da Água Branca, lá tem cavalo"! Nessa hora, meu destino chegou. "Tchau. Tchau. Boa sorte". Saí empurrada pela multidão. Por pouco não caí. Às vezes, o equilíbrio se perde, assim, num simples vão que separa o trem da plataforma.</span>Selenitahttp://www.blogger.com/profile/00122599031853200550noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4138422592948865213.post-66070916646463375222015-12-13T12:04:00.002-08:002015-12-13T12:04:39.437-08:00Rústico<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Tudo está, ainda, onde estava. As cadeiras, emadeiradas, envelheceram, há de se dizer.O chão rústico, vermelho, não é nada além de escorregadio, assim como todos que vêm passando, indo. Mas tudo está firme, assim como aquela raiz de mamão que se envolveu nos canos do quintal. Arrancada à forceps, sinto que ainda há seu cheiro quando passo por lá. Cheiro de mamão verde, misturados aos pés de couve, ao milharal que há muito já não existe. Recolho as poucas raízes que restam. Finas, curtas, sinto que a cada dia que passa elas se dissolvem ainda mais. O concreto cobre, duramente, cada uma das poucas aberturas deixadas. Receio que nunca mais encontrarei brechas para novas plantações, enquanto seguro com todas as garras as sementes que esqueceram em minhas mãos. Hão de encontrar terreno, eis de ser apenas uma questão sazonal.</span>Selenitahttp://www.blogger.com/profile/00122599031853200550noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4138422592948865213.post-31508220017321986892015-12-13T12:03:00.001-08:002015-12-13T12:03:57.163-08:00As seis funções<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px;">
<span style="line-height: 19.32px;">1. Coloco, lado a lado, pé, tristeza, cabeça e coração</span></div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
2. Ah, que coisa louca, o tempo passa, voa!<br />3. Tu não tem aí uma explicação?<span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><br />4. O som, que o tempo carrega, também aqui escorrega<br />5. Chove forte, não há trégua, não.<br />6. Toda palavra é uma desculpa não perdoada.</span></div>
Selenitahttp://www.blogger.com/profile/00122599031853200550noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4138422592948865213.post-60929696974398079322015-12-13T12:01:00.001-08:002015-12-13T12:01:08.887-08:00Calejada palavra<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Espalha-se, palavra, nas mãos calejadas de tanto pensar, palavra. uma, duas, quatro, mil palavras. pois, então, porque, senão, se eu que sou tantas palavras, ainda não sei dizer sequer uma. sempre nessa imensidão, jogo aqui, ali, não acerto a mão, palavra. pa-la-vra. lavoura de dizeres sempre confusos, discurso sem sentido, valor, consequência, de um dizer que custa caro aos meus dedos que não aguentam mais as mesmas palavras.</span>Selenitahttp://www.blogger.com/profile/00122599031853200550noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4138422592948865213.post-66757456882111337032015-11-15T18:08:00.001-08:002015-11-15T18:08:28.467-08:00Ao Meu Malandro<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Era de manhãzinha do dia 1º de novembro de 1958, quando d. Laurentina, prenha, começou a sentir as primeiras contrações. O dia era de chuva fina na fazenda à beira da estrada de Atibaia (interior de SP). O menino mais velho, João, que dormia tranquilo no quarto, foi levado no colo, às presas, até a sala. As meninas Luzia e Cecília dormiam na cozinha da casa de apenas três cômodos. A parteira Benedita Joaquim, uma negra forte, baixinha, estava prestes a chegar. Às seis daquele dia, vinha ao mundo no dia de todos os santos, Sebastião André Filho, que de vinte e quatro anos pra cá também sou eu, Jéssica André, prazer aos que não conhecem. A placenta foi enterrada em um buraco cavado ali mesmo no quartinho, pelas mãos do Bastião-pai-meu vô. O primeiro leite não foi da mãe. Os seios ainda estavam secos. A ama foi nhá Benedita, que havia dado à luz recentemente. Até os cinco, foi em Atibaia que fez morada. Depois, foi em Perus que o menino se fez adolescente. aos 9, pra comprar sua primeira bicicleta, vendia amendoim aos vizinhos que iam assistir televisão preta-e-branca na sala de casa. Depois, foi no algodão doce que encontrou o meio de sustento. Gabava-se até pouco tempo por conhecer cada rua dessa cidade de São Paulo pelas solas dos pés. Aos 17, as peladas no campo improvisado misturados às artimanhas da malandragem ditaram a passagem da adolescência à vida adulta. O irmão caçula, Tiago, era seu fiel escudeiro. Nos passes em jogo, nos passes da vida. A malandragem do morro da Flamengo nunca mais foi a mesma depois dessa dupla. Mas os trinta chegaram, o Ricardo, o Rafael e a Jéssica também. Agora, era ele o malandro-pai. Virou leitor de luz, de água, de gás. Depois, as crianças foram crescendo, veio também a Beatriz e o Tiãozão virou um malandro-vô. A idade havia chegado, ele não gostava muito e, por isso, pedia toda semana que eu tirasse seu bigode branco. Mas cabelo não pintava, não, o machismo encoberto não o permitia. Anos iam, anos vinham, e o malandro começou a definhar. Parou de dirigir, parou de ir às festas do santo de Pirapora. Não caminhávamos mais pelo Parque da Luz cantando os sambas e os raps que, sozinhos, criávamos sentados à beira dos balcões dos butecos sujos - aqueles onde, outrora, ele vendia, dava aos amigos as fichas de fliperama. Maconha era assunto permitido entre nós e whisky com energético tomado no mesmo copo. Eu era, assim, a malandra-filha. Éramos assim, até que, um dia, a malandragem definhou, a diabetes chegou a 560. As mesmas pernas que caminhavam São Paulo já não aguentavam aqueles nervos de aço. Foram vinte dias de pronto-socorro, maca no corredor, , médico cuzão tirando com nossa cara - ser pobre não é fácil, nem mesmo pra quem a vida inteira foi malandro, pra driblar esse sistema injusto. Eu, do lado de cá, fingi de malandra e finjo até hoje, cantando a ele, ao pé do ouvido, à beira daqueles quartos gélidos, os sambas de nossa trajetória. No dia 2 de julho, às quinze pras onze da manhã, senti um aperto na espinha. Era o velho me dando tchau. Sabia que, depois dali, só sobrariam essas rasas memórias, que todo dia eu fico juntando, feito cacos. Até hoje, depois de 1 ano e meio, quase, eu ainda me dirijo ao quarto dizendo pa...i, não está aqui. Vivo com isso como se vivem os doentes crônicos. Vou morrer com essa dor aqui cravada em mim e, enquanto eu viver, meu pai vive junto. E não mexe comigo, não, que a malandragem que vivia nele - ancorada pelas armas de Jorge -, em mim é em dobro. Porque como diriam, malandro não para, meu pai só deu um tempo.</span>Selenitahttp://www.blogger.com/profile/00122599031853200550noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4138422592948865213.post-9309925090937371282015-11-15T18:07:00.002-08:002015-11-15T18:07:11.044-08:00Eu Te Encontro<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Você, que não era senão um olhar cruzando os tantos, outros, nas multidões diárias das áreas de mim. Você, que era, depois, palavra, amontoado de sílabas, aparecendo e se desmembrando diante dos meus olhos cerrados. Você, que, então, era distante - nas horas, no tempo, dividido em, de novo, palavra. Você que era, foi, esteve, agora está - nas palavras que flutuam nos oceanos do meu pensamento de olhos cerrados das áreas diárias, trenziárias, metroviárias da multidão que nunca, nunca para, mas eu ainda Te encontro. </span>Selenitahttp://www.blogger.com/profile/00122599031853200550noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4138422592948865213.post-80506287920957427642015-11-03T17:41:00.002-08:002015-11-03T17:41:19.288-08:00Homesickness<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Dublin, último escrito. 6 de agosto. E na contagem regressiva regresso meus olhos para as janelas transparentes da minha - sempre - Blessington Street. De onde vêm todas essas silhuetas sem cor por detrás dessas esbranquiçadas cortinas? Quantas vezes, não poucas, eu estacionei meu olhar aos pés da minha própria janela. Que intriga era ver aquele canto direito do segundo andar do prédio logo em frente. Aquele menino; seu computador que o fazia 'varar' a noite em claro, como di</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">ria minha vó. Tirando esse momento - entre minha curiosidade e sua insônia - não soube, nunca saberei quem era a pessoa por trás daquela janela. Na janela logo acima àquela outra, uma luz que atravessava a rua e chegava até a minha sala, sem avisar. "Estariam eles fazendo um reality show de como convivem quatro garotas de diferentes nacionalidades em um mesmo flat de dois cômodos"?, questionavá-mos nós, minhas irmãs de flat e nossos convidados, quando sentados à mesa, todos alvo daquela misteriosa luz. E No outro prédio, à direita, último andar, aquele teto baixo, luz escura, aquela anônima mão que se mostrava na fresta, sempre trazendo um cigarro aceso. Enquanto isso, mais abaixo, um rapaz qualquer subia e descia pesos em suas costas, fazendo-me lembrar "do escravo de seus fins" do Histórias do Sr. Keuner do Bertolt Brecht. E eu, cá, me pergunto. Por que raios faz meu vizinho exercícios físicos? "I don't know, I will never know it"! No fim, nós todos estamo sutentados pela mesma Blessington Street, por onde correm todos os dias nossas anônimas histórias sem rostos. Um dia, até pensei, devem ser todos eles brasileiros. Não o são. Ou até são, não sei. O que, então, percebo é que este lugar me pertence e, assim, dele me sinto parte, lembrando-me do lugar de onde vim. E, agora, não sou mais só eu, sou essa brasileira com coração de leprechaum irlandês. Que eu nunca esqueça o colorido de suas portas escondido no cinza de seus dias, Dublin. LoveU.</span>Selenitahttp://www.blogger.com/profile/00122599031853200550noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4138422592948865213.post-86798615975968899772015-11-03T17:39:00.000-08:002015-11-03T17:39:01.167-08:00shopping trem -disk chiclete<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px;">
"fecharam as portas do trem e começou o shopping trem. tem gelada, mineral água. Hidrata e mata a sede. É o shopping trem. www.shoppingtrem/corredorapa".</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
"olha o fone com microfone, cinco reais. cartão de memória aqui na minha mão, na promoção".</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
" não provoca cáries, pois não contém açúcar, é a goma de mascar de Madagascar. na padaria 1.70, aqui é um real. Quem quiser ligue no disk chiclete que eu vou aí.<span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><br />mastiga eu, mastiga ela, mastiga até Véio banguela!"</span></div>
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">
<div style="margin-bottom: 6px;">
as empresas todas não sabem os marketeiros que estão perdendo. Eu sou Jessica Moreira, direto do shopping trem. Vem pro trem você também, vem! ( me inspirei).</div>
</div>
Selenitahttp://www.blogger.com/profile/00122599031853200550noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4138422592948865213.post-3748335830846375082015-11-03T17:37:00.001-08:002015-11-03T17:37:54.774-08:00shopping trem - m&ms<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px;">
" m&ms da Nestlé . Aqui é mais barato, lá fora é mais caro. A inflação não chegou aqui ( no trem). pode pegar, pessoal. não é roubado, nem tá vencido...é só desviado, o m&ms da Nestlé!"</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-top: 6px;">
esse é mais um episódio do shopping trem, direto pra você!</div>
Selenitahttp://www.blogger.com/profile/00122599031853200550noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4138422592948865213.post-47842478306951054832015-11-03T17:35:00.001-08:002015-11-03T17:35:05.298-08:00romeu e julieta na modernidade líquida<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Comer requeijão com doce de leite do pote = Romeu e Julieta em tempos de amor líquido!rs, ti-tunts (um oferecimento Zigmunt Bauman).</span>Selenitahttp://www.blogger.com/profile/00122599031853200550noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4138422592948865213.post-15795832156652552202015-11-03T17:32:00.003-08:002015-11-03T17:32:54.323-08:00Dia de santa<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Aparecida do Norte. O domingo era o da semana passada, mas a cena era a mesma dos tantos outros anos que a família seguiu toda em romaria. Meu pai nunca gostou de praia, nunca gostou de campo, nunca gostou de sair. Só festa de santos e visitas às igrejas de sua devoção. Aparecida do Norte, Pirapora do Bom Jesus, Tambaú. Cresci indo a todos esses lugares pelo menos uma vez por ano. Mas a Aparecida sempre foi mais especial. A família toda se levantava cedinho, umas 3h da manhã.</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;"> O pai, porém, estava de pé muito antes. Colocava uma daquelas camisas que formavam seu estilo "pai-camisa-jeans-bigode" e se sentava à mesa pro café-com-leite. Chegando lá, ele caminhava direto pra dentro do templo. Gigantesco, sempre me senti pequena olhando pro teto e pra uma escadaria sem fim, que de tão longínqua se tornava pequena perante meus olhos. Depois da hóstia tomada, era hora de visitar a imagem da santa Aparecida. Essa fila da imagem também sempre me interessou. Umas pessoas iam ajoelhadas, outras vestiam seus filhos de anjos. Abençoavam pernas, braços, cabeças de gesso, num ato de agradecimento à graça alcançada. Até hoje fazem isso. Logo mais, era a sala dos milagres. Essa não podia faltar. Nunca pode. Pra mim, a parte mais interessante. As correntes que se quebraram de um escravo que era devoto da santa. A pedra com a marca das patas do cavalo do homem que queria entrar na igreja a todo modo. As fotos grudadas no teto. Deve ter foto minha de promessa de dez anos atrás. Eu até levei um violão como oferta. É. Depois, era a hora de atravessas essa passarela aí. Eu e meu pai ficávamos olhando pra baixo. Como era alto. E ele me contando as histórias de gente que se jogava. "Coragem, não?", ele comentava, enquanto aquela multidão de devotos iam e viam, a todo tempo, sem cessar - com seus joelhos no chão quente, suas fitas abençoadas, suas cabeças ao Sol. E a gente seguia rumo a igreja velha, depois a de São Benedito e, por fim, a feira popular, que vendia desde quebra-queixo a roupas de marca falsificadas. Eu sempre pedia um óculos escuro, um rádinho a pilha, um bichinho virtual. Essa foi a segunda vez que visitei Aparecida sem o velho. Até tentei trocar de mal com Deus por me levar meu pai, como diria o poeta, mas essas memórias é que me aproximam do Tiãozão véio.</span>Selenitahttp://www.blogger.com/profile/00122599031853200550noreply@blogger.com0