1 de fevereiro de 2013

Primeiro dia de aula é inesquecível

Primeiro dia de aula. 1ª série. Minha lancheira era roxa, e o cheiro do pão com presunto e queijo, preparado por minha mãe, ainda vive na lembrança. Dalí a pouco, toca o sinal, ela vai embora e eu percebo um medo crescendo de repente.

Olho ao redor. Um tanto de crianças pulando. "Será que eles já se conhecem? Só eu que não conheço ninguém?". Menina tola. Era o pessoal do 2º ano. Senti que, ali, naquela escola com meninos grandes, eu teria que aprender a me virar sozinha.

1º D. Professora Ivône. Era uma mulher de estatura baixa. Nem gorda nem magra. Cabelos negros e lisos até a cintura. Parecia uma índia. Uma índia evangélica, logo percebi, pela saia que levava até os joelhos e pelo modo como falava de Deus nas aulas.

Eu adorava ir à escola e gostava também da Prô Ivône. Ela sempre elogiava meus trabalhos e, de sobra, ainda escrevia um comentário em todos eles - Parabéns, ficou lindo, princesa!

Eu achava que aquilo era só comigo, até ver o mesmo comentário nos trabalhos dos colegas. Um dia, levei um presentinho pra Prô, um ursinho. Ela adorou. Mas passado algum tempo, ela começou a dar algumas coisas de brinde para as crianças. E, poxa vida, ela deu o meu presente para a Daniela. Uma menina que sentava na primeira fileira do canto esquerdo. Fiquei chateada. Contei a minha mãe. Aí ela explicou que não importava pra quem ela desse o presente, pois a professora índia iria continuar  gostando de mim da mesma forma.

Demorei um tanto de tempo  pra entender esse dinamismo das coisas, e como nos sentimos proprietários até daquilo que damos. Passados catorze anos, eu compreendi que nem tudo que você doa permanece igual. O efeito de transformação excede àquele cronometrado por seus sentidos e sentimentos. Hoje em dia, enconro a prô Ivône pelas ruas, ela já com seus 60 e poucos anos, eu com meus 21. Engraçado, ela continua me chamando de "minha princesinha", mas desconfio que nem se lembra do meu nome.

Nenhum comentário:

Postar um comentário