27 de fevereiro de 2011

Selenitas órfãos

Estrelas pintadas de hélio brilhavam forte no quadro negro da sala acima. Pude ver o brilho ardente daquela estrela morta há anos-luz, chegando vagarosamente até mim e iluminando outra vez mais meus pensamentos e, por que não, meus sentidos.

Corpos celestes apenas se entrelaçam em meio ao universo de uma noite sem fim. Noites não dormidas dão espaço aos sonhos de noites pretéritas. Selenitas órfãos se encontram e de novo realizam uma semicircunferência na Lua que, agora, cresce como um dia a pequena menina teve que crescer.

Mas, mesmo os corpos celestes, também fazem resistência aos seus mais intrínsecos anseios. Agora madura, ela cansou de esperar por aquele que parecia nunca mais te alcançar. Mal sabia ela que ele corria tumbaleante entre os pedaços de estrelas que impediam sua passagem. Porém, mal sabia ele que nas estrelas cadentes que o impediam de chegar, ela pedia, incansavelmente, que ele chegasse antes dela partir.

Pude então, seja pela Lua ou pelo Sol, enxergar de olhos cerrados. O que os olhos não veem o coração sente, sim! 

1 de fevereiro de 2011

Sorriso falseado - uma tentativa de crônica

Era, apesar de tudo, um sujeito muito sorridente. Afinal, a água benta da “igreja da esquina” o fazia esquecer as desgraças do passado, do presente e também do futuro ainda não concebido.

Jorjão, assim o chamavam os amigos, parentes e principalmente os donos de botecos. Vivia assim: cinco meses trabalhava, dez afundava-se em meio a garrafas de destilados. Mas era, ainda assim, um sujeito muito peculiar, gozava de boa educação para com todos, fossem mulheres ou crianças, idosos ou bandidos, ricos ou pobres. Esse era o tão querido Jorjão.

Mas, o que poucos sabiam é que Jorjão tinha um grande (ou pequeno, tratando-se da forma literal) segredo. Havia em sua cabeça uma bala de revólver, calibre 38, atirada pelo próprio há vinte anos, quando assim descobriu que sua amada, Adalgisa - a loira dos olhos verdes, casara-se com outro homem. Essa foi sua primeira tentativa de suicídio, sem sucesso.

E nesses vinte anos, o homem acomodou-se em uma casa em frente à de Adalgisa. Viu os filhos dela crescerem, enquanto ele, coitado, trajava umas poucas roupas usadas, doadas por seu irmão, o qual também lhe cedera um porão no fundo do quintal, onde dormia.


Mas o sorriso desse tão jovial negro era algo estampado em seu rosto, parecia saber driblar muito bem as artimanhas do destino. Assim era passível de se acreditar.

Porém, em uma quinta-feira à tarde, "alarde na rua de baixo!", polícia no número 136, vizinhança toda parou pra ver. Vila pequena é igual família, todo mundo sabe (ou ao menos quer saber) de tudo.

Pois é, um segundo e lá se foi o sorriso de Jorjão, muito bem falseado durante tantos anos, acabando-se por entre dois lençóis brancos ancorados nas madeiras de seu próprio barraco. Ilusão? Decepção? Alegria? Ás vezes as aparências enganam, ou não!

Mundo mudado de mudo

O mundo anda tão mudado, e todo mundo tão mudo, em meio a tantas palavras!
Quem muda, mudo fica, com tanta mudança de cor.
E a muda que floresce, também muda.
E a muda menininha cresce, e vai mudar o mundo, que já não nasce mais flor!