14 de dezembro de 2012

Sul-FITE

É que, às vezes, quando você se apaixona por uma folha sulfite em branco, ela permanece em branco. Vazia, em cima da escrivaninha. É triste, já que eu sempre deposito muita expectativa em qualquer folha, até mesmo aquelas que já foram rabiscadas. A verdade é que eu não me importo com o tipo de folha, eu só quero uma folha pra escrever alguma história. A minha, a sua, as nossas.

10 de dezembro de 2012

Ilhados em Cardoso – uma aventura no manguebeach


Reza a lenda que um tal de André, que era irmão de Simão, que conhecia um tal de Jesus, começou a tratar muito bem uma gente que dele se aproximava na praia. Eis que esse André foi virar padroeiro de uma ilha bem distante daqui, mas onde o mar se mistura com o céu, e o céu, meu povo, fica perto, mas muito perto dos dedos de quem costuma contar estrelas ao anoitecer. Vai vendo!

Ilha do Cardoso
Era uma vez umas gentes cheias de vontade: de pisar na areia, de ver golfinho e molhar o dedão do pé . E era uma vez umas vontades cheias de gente: fina, elegante e sincera, que, na manhã daquele 1º de dezembro, firmaram seus calcanhares na praia de um tal de Cardoso, que sequer deu as caras durante aqueles dias.
Malandro, seu Cardoso deixou lá alguns capangas que davam as coordenadas pra onde é que aqueles pés sem rumo deveriam armar seus devaneios.

- Vinte e sete pés, aqui!

- Sim, senhor! Gritaram.

- Com emoção ou sem emoção?

Ninguém respondeu.

- Silêncio dado, emoção vendida! Gritou o capanga, rasgando mato adentro!  “Emoçããããããããão” saiu dizendo!

Amedrontados, os 27 pés descalços foram adentrando por aquela floresta no meio da areia salgada. E um deles, lá do fundo, indagou “Mangue é só no nome, né?”. Mas o homem que ia à frente não respondeu.
E, pouco a pouco, íamos sendo abraçados pelos braços das árvores. Cutucados pelos galhos e observados pelos caranguejos. Muitos. Que iam e vinham, vinham e iam, como a dizer “nhém nhém nhém nhém, sinal fechado pra você, playboy”!

Ponte do mangue

 E, sem titubear, parávamos feito estátuas, até que aquelas filas passassem e pudéssemos seguir o caminho dos fundos. Aquela era a avenida paulista do Manguetown. E os nossos pés eram os carros, que, diferente dos de cá, paravam pra natureza passar.

Ao enfrentar o primeiro desafio, outro mais nos esperava. Uma grandiosa ponte grande. Alta. Tão alta que, se você caísse, iria ser sugado pelos caranguejos infiltrados em seus buracos. E, por isso, todo mundo passava na ponta dos dedos, arrastando os pés e levantando os calcanhares, assim como, mais tarde, iriam fazer ao dançar um forrobodó do outro lado da floresta (en)cantada.

Após armarem seus sonhos, e guardarem seus problemas nas malas, todos foram esbravejar aquela Ilha, que já não era mais do Cardoso ou dos caranguejos que a habitavam. Era nossa e dela nos apropriamos. Nos afundávamos tanto n’água, que parecia um batismo da alma.

E, na noite desse dia, todos já estavam pra lá dos saquês de abacaxi e caipirinhas de morango. Ouvia-se rojões. Soltava-se fogos à doidado. E o povo todo ia à loucura, enquanto as rabecas do fandango iam surtindo efeito naqueles que tinham ouvidos nas solas dos pés e remelexo no meio da cintura.  Era um tal de quebra-quebra  pra lá. Quebra-quebra  pra cá, até que uns joelhos não agüentavam mais.  Mas esses mesmos joelhos tinham motivos de sobra  pra se ter mais fé. Seja para observar iscas e anzóis, daqueles Andrés, Pedros e Tiagos que pescavam  no mar em frente, ou apenas para comemorar. Mesmo não estando tão famintos ou curiosos, continuavam a olhar o mar escuro. E olha que o mar escuro daquela noite trazia o medo lado a lado, mas, logo, transformava-o em corais mais coloridos.

VALEU A PENA, Ê, Ê! VALEU A PENA, Ê, Ê!

Eternamente, pescadora de ilusões.

De Selenita para a galera da TRIP para TODOS! 

Texto realista-fantástico-doidera, totalmente inspirado em viagem à Ilha do Cardoso, dezembro de 2012. 

4 de dezembro de 2012

Oração de versador

Em nome do poeta, do pseudônimo e da palavra. Amém.

Sinal (quase) fechado


- Mas como vai a vida, Cara Amiga?

- A vida, Caro Amigo caro, anda como aquela velha folha sobre o rio. Mas, agora, com ventos mais ligeiros, às vezes, até ventanias e furacões. Mesmo assim, anda leve. Anda solta. Noutras, anda com vontade de se fixar numa boa árvore. Que traga sombra e firmeza. Mas, quando isso acontece, sempre vem uma nova ventania que a leva pra outros rumos.

29 de novembro de 2012

Tina: uma memória viva de 89 anos


Recordar: do latim recordis, voltar a passar pelo coração. 

Quantas são as pessoas que  não desejam, ao menos em uma fração de segundos, passar novamente pelo coração aquela sensação que outrora viveu? Todo mundo sente vontade de recordar, de voltar a passar pelo coração. E, ao mesmo tempo, sente medo, muito medo de não sentir mais esse “coração”, caso a memória seja esquecida.

Emoção e memória. Duas palavras dentro de um mesmo organismo vivo, revirando células e neurônios, em busca de um sentido para a vida. 

Para um escritor, a memória passa pelos dedos até se transformar em verbetes. Para uma senhora de 89 anos, ela passa apenas e exclusivamente pela alma.  Dona Laurentina Almeida nasceu em 1923, em uma fazenda de Piracaia, interior de São Paulo. Infelizmente, não pôde estudar. Não escreve, nem lê. Mas dinheiro ela sabe contar, sim senhor. E, apesar da idade avançada, lembra de todas as datas e nomes de pessoas daquela época da fazenda. “Eu tenho muito medo de perder a memória, mas eu rezo todos os dias para o Divino Espírito Santo não deixar isso acontecer, já que meu falecido marido morreu com Alzheimer”.

Dona Laurentina caminha bem, sem precisar se escorar em algum tipo de acessório. As rugas em seu rosto parecem um mapa, indicando os caminhos pelos quais esta senhora percorreu durante os seus quase oitenta e nove anos. São linha finas, mas cheias de memória.


São 10h25 da manhã. Já faz quatro horas que ela se levantou da cama. Começa, agora, a preparar o almoço. “Acordo sempre umas cinco e pouco”. Diz ela, enquanto amarra o lenço na cabeça. A senhora não sabe explicar por que acorda tão cedo. Sempre foi assim, desde os tempos que morava no interior. “Tem muito que fazer. A turma vai trabalhar e tem muito que fazer da vida, na casa”.

Hoje é sexta-feira. Dia de peixe na casa da família de dona Laurentina. Pede pra eu acompanhá-la na pia do rancho, onde irá limpar o peixe. Enquanto responde às minhas perguntas, a alegre senhora vai tirando os espinhos da sardinha que daqui a pouco será frita.

A maior parte do tempo matinal, Laurentina passa na cozinha, onde o tempo nunca para, sempre se mexe entre uma colher e outra dentro da panela.  E esse tempo, para ela, parece estar em uma constante ebulição, fazendo o horário do almoço chegar mais rápido que o esperado.  

Quando pergunto a data de seu nascimento, ela diz, enfaticamente, “põe trinta de novembro, data de registro. O dia no nascimento, quinze de novembro, morreu”.  E entre um prato e outro, Laurentina vai contando sua história, com uma riqueza de detalhes que impressiona, já que são coisas que se passaram há setenta ou oitenta anos. “Com cinco anos eu já fazia serviço: varria a casa, escolhia feijão e cuidava do meu irmãozinho, o compadre Zezinho”. Enquanto fala, tira o cabelo do rosto e enxuga as mãos no avental. 

Até sua brincadeira era coisa de gente grande. “Brincava de casinha na beira da casa. Pegava o caco da tigela que quebrava ou da latinha e colocava em um armarinho de tijolo, feito de bloco e tábua de madeira como prateleira. Eu mesma que fazia”, conta orgulhosa e feliz. 

Depois, vêm as lembranças da adolescência, esbarrando-se naquilo que seu coração não quer jamais esquecer: o amor de sua vida, Sebastião André. “No total, foram 69 anos de convivência”, comenta com saudosismo e um pouco de tristeza. Nos últimos quinze anos de vida de Sebastião, ele já não se lembrava de nada. Neste momento, uma de suas noras aparece e Laurentina comenta sorrindo “Ela está me tirando lá do fundo do mar para ficar me especulando”.  Depois, volta a falar do marido com uma tristeza no olhar, pois como o conheceu durante quase setenta anos, foi muito angustiante para ela ver um homem tão forte e inteligente, como era seu Sebastião, acabar a vida em cima de uma cama, sem lembrar das modas de viola que, durante toda a vida, havia composto.

“Tudo começou quando ele tinha uns setenta e cinco anos, depois que foi assaltado. Caiu em depressão e não queria mais sair de casa. Não lembrava da netaiada, nem dos filhos.  O Bastião não aceitava também a idade que tinha. Ele não era como eu, que aceito ser velha. Ele não queria envelhecer”, fala já conformada. 

E da senhora, ele também se esqueceu?, questiono.  “Não”, diz incisiva. “De mim ele sempre lembrou”, diz orgulhosa.

Mexe na testa, cruza as mãos. Pensa e conclui: “Perder a memória é coisa muito triste. É esquecer da vida. Aí não tem nem mais vontade de viver mais”. Mas o maior receio de Laurentina está em algo muito mais subjetivo que a própria memória. “Tenho medo de esquecer das minhas rezas. Espero não perder nunca, se Deus quiser, porque a reza é a defesa da gente e da nossa família”. 




Hoje, a inspiração desse texto completa 89 anos. Se fosse me dado o direito de ter três pedidos na lâmpada mágica, eu pediria que ela vivesse mais 89, pra me encharcar com teu risinho simples, às vezes sem jeito, que vem toda manhã abrir a porta do quarto pra saber se ainda estou dormindo. 

Deus e um bêbado retardado levaram embora minha outra avó, antes mesmo que eu a conhecesse. Cresci orfã de uma vó. E essa dona Tina me supriu, sendo vó duas vezes. E também sendo mãe, quando era preciso. E amiga todo o tempo. 

Quero tuas histórias pra sempre. E pra sempre quero tuas memórias, inconfundíveis, assim como é também esse teu jeito de dizer "Vai com Deus e que Ele te acompanhe". Mesmo hoje não dando nome mais ao meu Deus, sinto que essa frase é que me rege, me guarda e ilumina. 

Tina, Tina, minha, nossa Tina. Viva pra sempre! 


28 de novembro de 2012

O dia que vô Bastião acenou de Júpiter


E essa Lua com "estrela ao lado" me fez voltar lá longe no tempo, ao buscar os binóculos de meu avô. E relembrei dos tempos de criança e como isso era guardado a sete chaves aqui em casa. "Ninguém mexe. Ninguém põe a mão"! E eu não entendia a razão disso, uai. Agora, vendo e sentindo essa movimentação dos astros, eu percebo quanto é mágico. Acho que, de alguma forma, Seu Sebestião deve estar mandando umas energias cá pra nós e dizendo, meio bravo: "Tina, olha as criança fazendo os binóculos de brinquedo"!


Versinho tolo é pleonasmo nesse caso

- Vamos juntos?
- Eu quero ir...
- Ir junto com?
- Junto com você. Nós dois, a sós e só.
- Junto com é pleonasmo!
- E minha vontade de "ir com você" também! 

Nem todo ranking é regra

Reflexão de uma ex-estudante de ensino médio!

Falar de ENEM, pra mim, é relembrar os tempos de ensino médio. No meu caso, na Etec Basilides de Godoy, lugar onde aprendi muito mais que fórmulas, aprendi a SER. Isso, a ser. A ser menos hipócrita. A ser menos preconceituosa. A ser menos cabeça fechada. A ser menos acomodada com os males todos que nos circundam. A ser gente 
grande, já que, dali em diante, esse seria o destino. 

Mas, vamos ao ENEM. 

Então, lembro que, em minha época, o BG era uma das melhores escolas da capital. E todo mundo sempre ficava muito ansioso aguardando o ranking das escolas, pra saber se havíamos passado as outras ETECS ou colégios particulares da cidade. E a coordenadora fazia questão de grudar em todas as paredes azuis daquela escola uma folha com o nome "Basilides de Godoy", para que, assim, os alunos se orgulhassem de estudar em uma das “TOP 10” de São Paulo.

Em um ano, fomos 3º lugar, noutro 4º. Sempre por aí. Até que, em 2008, chegou a vez da minha turma. Que coisa. Fui mal pra caramba no ENEM. Me senti péssima. Afinal, eu tava na TOP10, né? E, com essa nota baixa, veio também os reveses. Não passei na USP naquele ano e muito menos consegui entrar em uma das melhores universidades particulares pelo PROUNI. Foi um período delicado, já que boa parte das minhas expectativas haviam ido pro brejo. Foi aí que sai á procura do cursinho pré-vestibular popular do meu bairro - Perus - e foi lá que conheci, de fato, o lugar onde moro. Descobri histórias atrás dos noticiários que só o tratavam como lugar perigoso, favela, etc e tal. E descobrindo sobre o lugar, eu me descobri. Que coisa. De pensar que tudo tava dando errado, hoje acho que o ENEM escreveu torto por linhas tortas. Por que digo isso? 

Pois daqui seis meses eu me formo em Jornalismo. E, por incrível que pareça, meu trabalho de conclusão de curso será um livro-reportagem pra falar sobre Perus, sobre a história de uma fábrica abandonada, de uma greve de sete anos e de uns senhores que trabalharam pra caramba na construção dessa cidade. Peraí. E o ENEM? Aí que o ENEM só me fez crescer mais. Me ensinou que nem todo plano dá certo e que nem todo ranking é regra. 

Vamo que vamo!

15 de novembro de 2012

Difusa nebulosa

A fresta da janela não negava que o dia havia se aproximado. Enquanto isso, o Outro lado da Lua se afastava cada vez mais. Mostrando que há corpos celestes incompatíveis demais tentando ocupar um mesmo espaço.

E se tudo, no fim, vira poesia, o que fora escrito ali não era senão o reverso do verso. Uma estrofe sem rima. E umas rimas tão pobres quanto as circunferências daqueles planetas distantes.

E aquele satélite que, outrora, havia estado cá dentro, agora era só longitude. Agora, era SÓ e SÓ era. Nebulosa de absorção. Suga brilho e se esconde atrás de outras, difusas, planetárias, reflexivas.

Luas minguantes aceitam, sim, matéria que as preencham. Mas, ao crescer, logo se enchem e mandam tudo de volta pro universo.
Nebulosa

13 de novembro de 2012

Sem s/t

Prefiro pecar no excesso do que na falta. Sou intensa e extensa. Meus períodos são longos, mesmo não havendo tempo pra mim nesse tempo.

12 de novembro de 2012

São Thomé das letras, das pedras e das canções


Céu nublado. Pingos finos sobre as pedras compunham o cenário daquela manhã cinzenta. E aquela cidadela, toda maquiada naturalmente de pedrinhas, ia, aos poucos, nos convidando a nela adentrar. E nisso até os cachorros eram acolhedores. Tinham ares de quem sabe viver bem. Bebiam da mesma água que nadavam. E cheiravam todo corpo novo, a fim de desejar boas vindas.

Era uma cidade miúda. Mas miúda só no tamanho. Pois era bem comprida, assim como há de ser o espírito de todo mundo que vive em estado de Minas. Sim, “em estado de Minas”, já que Minas não é apenas um estado geográfico, mas também um estado de alma, um estado de fruição de tu com tu mesmo.

E, de repente, eis que as pedras tomam forma, transformando-se em uma gruta escura, onde morcegos faziam sua morada. E cada um que ali depositava seus pés, surpreendia-se com as novas sensações que passava a conhecer. Medo e curiosidade mesclando-se num só corpo, que ao sair dali, sairia de alma e calças lavadas.

E ao ver a luz de novo, um novo desafio vinha à tona: a ponte de madeira. Minuciosamente, um a um foi passando por ali, até chegar do outro lado daquele paraíso sem fim: a cachoeira.

E quando todo mundo estava pensando que havia acabado, surge, então, a Cachoeira da Lua. Era de dia. Mas a misticidade do lugar prevalecia como se fosse noite, como se fosse Lua. E, dalí a pouco, todos se jogaram na Lua. Todos se encontravam na Lua. Todos eram, finalmente, Lua. Enquanto isso, um senhor de barbas brancas e olhos verdes explicava toda a Lua. “Seu formato, sua aura, é uma Lua”. Na subida da Lua, um hippie (en)cantava com seus instrumentos. Ora com o de sopro. Ora com o violão. Ora com o pandeiro. E, por fim, com todos.

Como se toda a Lua já não bastasse para descarregar a energia baixa, todas aquelas pessoas resolveram, por si só, inventar um jeito de jogar fora o mau olhado, a má sorte e o corpo pesado. Chuá! Chuá! Ninguém que entra sai como era antes. Chuá! Chuá! Descarrega o santo, que atrás vem gente. Chuá! Chuá! A cachoeira que tá em mim chuaviza a cachoeira que tá em você. Chuá. Chuavize. Que chuavizando você suaviza a vida.

Na hora da sesta, um susto. Uma ladeira que faz carro andar pra trás sozinho e gente descalça cair no chão. Num chão de amendoim. Era a Ladeira do Amendoim, donde ninguém sai isento de sentir o magnetismo surreal ou, para os mais céticos, o desnível de uma rua de terra.

Chegar e dormir. Ah, alguns até pensavam que não aguentariam mais um tanto de emoções, vibrações e canções. É chegada a noite na cidade de pedras. E toda a energia concreta daquelas rochas começa a fluir. A emanar um sentimento de pertença por aquele pedaço de chão. Daí, então, já nos sentíamos cidadãos do mundo. Daquele mundo.

Um casal passava e nos indicou o Bar do Dois. Seguimos o caminho das pedras. Cantamos noutro bar. Subimos uma rocha. Passamos pelo Ervalaches e, enfim, chegamos às pedras que nos levariam à Pirâmide. Lá, onde os ventos uivam incessantes e os cabelos voam sem parar. Onde, mais uma vez, a música apareceu e, misturada ao som do vento, nos levou ao degrau mais elevado daquela noite. E, daquele céu esvaziado, começou a brotar estrelas que não paravam mais de crescer. Eram estrelas que mudavam de lugar. E ali ficamos, até o frio nos dedos de quem toca pedir pra parar.

Mas no coração, a música nunca para. E ela pulsa forte, em notas que nos fizeram descer, novamente, até o Dois. O Bar do Dois. E a vibração das cordas daqueles violões nos agitavam no lado de baixo. Nos faziam sorrir uns para os outros e ter vontade de juntar mão com mão, como diria uma outra canção. E assim foi até chegar a madrugada, quando alguns pés cansados resolveram esperar o novo dia chegar, voltando para a pousada. Enquanto isso, uns outros iam para a Pedra Mágica. Uma pedra que não se molha, enquanto as outras choram. E a música, de novo, foi ao nosso encontro, sendo a nossa companhia.

Pés e dedos cansados levantaram logo cedo noutro dia. E, ansiosos, corriam para pegar seu lugar ao Sol. Dum lado, uma cachoeira alegrava as moças solteiras que queriam se casar: era ali que tava o Véu da Noiva. Do outro, uma porção de borboletas azuis, dando a letra pra quem só pensa em viver sua livretude, sem mais. E o Sol, nesse dia, resolveu dar as caras junto às borboletas azuis. E a água gelada esquentou até quem  tinha pé gelado, e tinha receio de sentir a força da água em queda bruta.

E de pensar que tudo começou com um céu nublado. E de pensar que podia ser apenas mais uma, só mais uma viagem. Mas não. Nunca é. Uma viagem sempre será a melhor viagem quando você sai transformado dela. São Thomé me levou à Lua. Voltei astronauta de mim.


(Crônica inspirada em viagem à São Thomé das Letras (MG), em novembro de 2012).

Uma folha que passou em minha vida.
Um beijo doce da natureza. Ficou lá em São Thomé.
Mas continua em mim.

8 de novembro de 2012

Amor de trem é passageiro

Ontem, ele havia me olhado da cabeça aos pés. Eu ignorei e segui meu caminho. Hoje, aqueles olhos verdes me fitaram uma vez mais. Resisti. Ignorei. Amanhã, há de existir outro, mesmo que for passageiro.

O direito à memória

O povo, oprimido por tantas injustiças sociais, acaba também oprimindo a si mesmo, pois lhe é negada a oportunidade de recuperar sua própria memória. E isso se dá por conta das injustiças, pois uma vez que é negado a um povo o direito à educação, por exemplo, é, consequentemente, negado-lhe também o direito de buscar sua identidade pela linha temporal. 

Quando lhe é negado todos os direitos sociais, a sociedade lhe nega o direito à memória. Pois como este sujeito irá ter forças o suficiente para buscar a si próprio, se o seu próprio ser já não enxerga razões para sobreviver ao presente? 

Como o sujeito que passa fome,  que não tem direito à moradia, à uma alimentação digna no presente irá conseguir ter ânimo suficiente para realizar um resgate histórico que forme sua identidade? Ao negar ao indivíduo os direitos sociais obrigatórios, a sociedade logo está lhe negando o direito de recuperação da memória, e, assim de sua própria identidade. 

Ah, as palavras...

As palavras não devem apenas se juntar e, assim, uma se tornar passiva em relação à outra. As palavras devem, sim, combinar-se. Aconchegar-se umas nas outras. As palavras são fantásticas. E, se a língua, como dizem, é um elemento vivo, deve ser o mais feliz de todos estes que conhecemos. Apenas as palavras podem casar e se descasar com quantas outras palavras quiserem. Sem dor. Sem sofrimento, a palavra é inteiramente dona de seu sentido...

26 de outubro de 2012

Na vida, sempre há um escolhe-dor


Era horário do almoço. A avó escolheu ir escolher feijão, enquanto a menina o arroz. Dali a pouco, a menina foi até a mesa e parou um tanto de tempo pra ver o tempo da avó passar. E não entendia bem quais eram os critérios que a senhora utilizava pra separar o feijão. Ora a senhorinha jogava o grão na panela. Ora colocava de lado.

“Esse vai. Esse não vai. Esse vai também. Esse não e esse aqui também não”. E a menininha, encabulada e cheia de perguntas, não hesitou em interromper a avó.  “Que foi, menina? Num tá vendo que tô ocupada, ora?”, reclamou a vózinha.

A menina desistiu de todas as perguntas e cresceu com aquelas dúvidas atrás da orelha, dos olhos e também dos dedos. “E, agora? Qual será o critério da escolha do feijão?”, se questionava, uma vez ou outra.  Eis que um dia foi fazer uma visita à avó, em horário de almoço. E, como há anos, a avó também colhia o feijão, com a mesma paciência e concentração.

Dessa vez, a menina  - agora, moça grande - decidiu que não perguntaria nada. Apenas observaria os gestos, os olhos e as mãos. E a avó nem percebeu sua presença ali, quietinha, e continuou na lida.
Foi aí que a moça percebeu que, em todo almoço, há um escolhido.  E o escolhido, no final, não tem escolhas, a não ser que ele passe a ser escolhe-dor, quem sempre escolhe a dor do outro, sem razão ou sem querer.  

"Filha, vem almoçar, vem?".

Já vou, vó. Tô escolhendo a minha dor. 

18 de outubro de 2012

Saudosa pieguice


Ah! Se um bocado de mim, agora, gritasse
Um pouco de passado
Amargo
Eu poderia
Lembrar de um sonho qualquer
De um momento de paz
De você ao meu lado.

E a memória desta cuca branda
Deixou lá fora
Uma brisa morna
Que arrastou
Meu peito afora
Pra perto do céu!
Meu  amor é
Só céu! 

17 de outubro de 2012

Saudade é bicho que pica sem se ver


É que saudade é um desses bichinhos que passam despercebidos pela pele, que quando a gente vê já queimou e vai arder por um bom tempo.

É dessas mariposas que teimam em rondar em minha cabeça. E gira, gira, até eu fingir que elas já não estão mais por perto. Mas basta um acender de luzes e lá estão todas elas outra vez.

É que saudade deve ser também um desses bichos que não morrem nunca, só se degeneram, feito lagartixa que perde o rabo.

Saudade deve ser aquele outro bicho que rói defunto. E vai comendo devagarinho, devagarinho, até não sobrar a gente, nem saudades. 

15 de outubro de 2012

Pousando na Cajaíba


Beiravam sete horas da manhã. Uns rostos ainda não haviam se acostumado com a claridade que vinha de fora. Enquanto outros, porém, já aguardavam ansiosos pela chegada do barco que nos levaria para o outro lado do mundo. Daquele mundarejo de Pouso da Cajaíba.


Por um instante, pensei que ouviria um “Içar velas, levantar âncoras”, enquanto aqueles barquinhos todos iam se aconchegando na areia da praia.

E aquele movimento todo me levou a uma história que eu mesma não conheço  (caso não  fossem as figuras dos livros da escola). “Tô me sentindo como os portugueses chegando ao Brasil”, ouvi alguém dizendo. Incrível como o mar pode nos unir a memórias que sequer vivenciamos, mas que basta um molhar de dedos e lá estamos nós encharcados de lembranças, medos e alguns feitos heróicos outra vez.

E eu ia me apequenando por entre aquelas entranhas de águas cristalinas. Mas, na verdade, eu me sentia mesmo uma pequena grande. Que, em vez de se diminuir perante o gigante, sentia vontade de abraçá-lo e de ir crescendo junto com ele.

O Sol, nesse dia, se escondeu por trás de umas montanhas compridas. Mas não tão compridas a ponto de  impedir umas névoas trigueiras de se aconchegarem. E essas nuvens – parecidas com carneirinhos, comodizia a sabedoria popular de uma avó– iam anunciando a vinda de novas águas.

Mas os mesmos rostos cansados não se intimidavam com um pingo ou outro do céu. E cada um, a seu modo, ia se acomodando com malas e bugigangas de toda natureza. Até que fomos recebidos por uma senhora de sorriso largo e vestido de chita – dona Pituca. E também por uma menininha tímida, de nome Priscila, que nos deu boas-vindas trazendo um esmalte para pintar unhas.

Os outros dois barcos só chegaram meia hora depois do nosso. E num deles, o som do cavaco ia ressoando alto até nossos ouvidos. Eram umas vozes que cantavam com gosto umas dores e uns amores de outros alguéns, de outros ninguéns ou deles próprios.

E se Sol não tínhamos, improvisávamos com um Fá com sétima ou um Lá bem aumentado, que nos levava pra Lá de um horizonte que, na cidade, não se pode tocar. E lá era tocado o dia inteiro.  

Não caberia aqui cada detalhe daquela praia. Cada areia graúda que peguei nas mãos, ou cada risada alta em frente àquelas batucadas cheias de harmonia.  

Se eu pudesse, agora, trilhar um caminho, eu passaria por todas as trilhas que me derrubavam e encharcavam de lama. ‘Porque se sujar faz bem’. Mas se não sujar, você passa limpo e ileso pela própria vida:

E passa despercebido por uma velha no meio da chuva gritando pelo filho perdido. Ou por um filhote de cachorro no escuro de uma trilha. Ou, então, pela teia de aranha escondida dentro de uma rocha. E passa  pelo canto sem ouvir o canto do pássaro na sua própria janela.  E passa pesado feito um passarão, enquanto pode passarinho: leve e free!  



(Crônica totalmente inspirada nos detalhes sutis, porém complexos e cheios de beleza, de Pouso da Cajaíba, em Paraty-RJ)

7 de outubro de 2012

VO(l)TAR

São 8h da manhã. Meus familiares já estão todos a postos para ir às urnas. Eles preferem acordar cedo, em vez de pegar uma grande fila no final da tarde. E, logo pela manhã, a discussão já rola solta. Os exemplos personalistas tomam conta, enquanto eu viro a vilã da história da minha casa. Meus pais nunca foram militantes de alguma causa. Só a nossa mesmo, a da sobrevivência. Que já é uma baita causa. Nunca os julguei por isso. Mas, sei lá, desde criança eu sou a chata dos questionamentos, das poesias em beira de estrada e do “Eu quero VOTAR”.

Lembro-me da segunda vez que acompanhei minha mãe em uma eleição. O ano era 2000 e o sistema de contabilização já era por meio de urnas. Pedi para entrar junto com ela na cabine. Ela deixou. E não hesitei em pedir pra apertar o botão. Depois, sai contando a todos os primos que eu tinha votado e, não sei por que, aquilo me fazia se sentir de alguma forma melhor que eles. “Sou criança e já votei”! Que ilusão!

E em outros anos eu também a acompanhei. Até que eu, em 2008, fui a campo, fui pro embate e pro debate político, e também apertei o botão verde. Sim, o verde. Acho perda de tempo sair de casa em um domingo de Sol (quase toda eleição cai num domingo de Sol) pra votar nulo ou branco. Não acredito que voto assim seja forma de protesto ou indignação. Pra mim, revolução é votar e voltar. Votar com consciência e voltar para si mesmo, refletindo sobre o seu próprio papel enquanto cidadão.

Acredito que seja difícil se perceber como parte de algo tão grande, como é a cidade de São Paulo. Às vezes, anulam nossa existência, nos apequenam, fazendo-nos sentir impotente diante de grandes decisões, como são as eleições.

Assim, espero que nessas eleições, cada eleitor seja um torcedor fanático pelo seu time. Não aceite arbitrariedades dos juízes ou desleixo dos técnicos. Que vigie seu jogador preferido e não aceite de cabeça baixa aquela falta desnecessária. Que acompanhe cada passe do elenco em campo e participe da discussão, mesmo depois da partida.

E, por fim, desejo que seu time se chame SOCIEDADE e que seu voto seja um GOL de responsabilidade, maturidade e cidadania!

E que, mais do que o apertar o botão que gerava a curiosidade da criança do passado, que o ato de votar seja UMA das formas de se fazer a transformação que queremos!

4 de outubro de 2012

Hey, Mr. Tambourine Man!


Acordei e lhe pedi apenas um favor. Nada mais que um.
Um.
Um barulho qualquer na janela. Um bater de asas. Um tom de azul. Um verbo sem carne. Um arrastar de pés. Um soco na porta. Um assovio largo. Um dedilhado. Um sugar de olhos. Um verão amarelo. Um céu de brigadeiro. Um mar no asfalto. Um amor. Um adeus. Um tititun-tá-tátá. Um devaneio. Um sei lá o quê.
Um. Um. Um.
UM? 

3 de outubro de 2012

Pó de vida


Revirei a cabeça e olhei para a direita. Não tinha mais Sol. Retornei o pescoço e me direcionei à esquerda. Não havia mais Lua. Parei. Resolvi centrar o pensamento em MI, depois em Lá. E foi em lá que eu comecei a sentir saudades, a querer de volta as tantas voltas que eu voltei.

Sentir saudades é lembrar, é colocar sua mente à disposição da memória e, assim, do passado. Espaço este que já não pode mais ser revirado. Reescrito. Porém, único que, de fato, é concreto em nossa vida. Esse pó de vida!

2 de outubro de 2012

Um bar e-mail


Bar e e-mail.
Se eu não os devoro, eles me devoram  primeiro.
Então, sugo tudo.
Sugo até a última letra, ou cevada.
Sim, sou um pouco dada, me dou por inteira.
Minhas palavras sempre são completas,
meu copo sempre está cheio
E meu corpo aberto.

Mas, agora, só o que me resta é ler
frases cortadas  e-mail.

Com beijos jogados pra escanteio.

Se me cabe, nesse texto, ser grande?
Já nem sei
desculpe,
Você se foi, mas eu continuo por inteiro!

Rimei sem verso, versei sem conteúdo.  Não tenho medo.

FutStar

Se tenho estrelas no lugar de pés, já não sei. Tenho, em mim, algumas luas na mente, apenas. E, sei lá, se são satélites, ou se são moradas. São luas.

29 de setembro de 2012

Eu sou uma amadora II


Raso. Fundo. Meio cheio. Meio vazio.
Direita. Esquerda. Centro. Avante.
Não sei. Sei bem.

Sempre no so-so
Do que sou.
Um meio a meio quase inteiro
Um vazio meio cheio.
Um lotado sem volume
Um eu amador

Eu sou uma amadora
Amo saber dos vazios
E também dos cheios
Dos lotados e também dos sem volume

E por ser uma amadora,
um fingida quase verdadeira
é que eu me tornei
uma
AMADORA   
AMA
AMAR
       A
        DOR que
        ADORA! 

De quando eu ganhava doces em 27 de setembro


Eu queria muito fazer um post bonito falando das minhas lembranças de criança, quando era dia de São Cosme e Damião. Mas, agora, já crescida, eu me pego sem tempo. Pra pensar. Pra lembrar. Pra ser, mais uma vez, aquela criança à espera de doces.

À espera daquela Tia Carmita, que todo ano fazia uma festa e, mesmo quando a gente não ia, mandava um saquinho cheio de guloseimas: balas, pirulitos e guarda-chuvinha de chocolate. E, às vezes, a primaiada ainda brigava, porque um pirulito era rosa e o outro azul. No final, a gente dividia todos os doces para fazer um barzinho. Eu vendia doces para o meu pai. Interessante, já que era ele mesmo que trazia as caixas de suspiros quadrados, daqueles rosas, sabe? E ele subia cansado cheio de caixas de doces de bar. Ah! A gente chama lá em casa de doce de bar esses doces que são de origem caseira, como o doce de leite, paçoca de rolha, cocada.Hum. E tantos outros, que adoçaram a minha infância.

Hoje, acordei e, como de costume nesta data, perguntei se havia doces em casa. Meu pai falou: "Ah, não existe mais isso. Se der doce pra criança, hoje em dia, vão pensar que é pedofilia".Triste saber que um imaginário construído pelas crenças e mitos de um povo pode se transformar em matéria de programa sensacionalista.

Agora, posso até não ser mais chamada de criança. "Se trabalha, é adulta", minha avó diz. Mas confesso que continuo esperando pelos doces de caixa do meu pai. Os bombons da minha mãe. E aquele saquinho de guloseimas da Tia Carmita, que, infelizmente, eu sei que não irão chegar.

Viva São Cosme, Damião e Daum.

Tem coisa na gente que não muda . Tá guardado na memória, naquela memória longa, que insiste em permanecer ativa, pra que a gente se recorde que, independentemente do credo, a nossa história vale muito a pena de ser lembrada!

22 de setembro de 2012

Café com prazo de validade


Com açúcar ou com afeto?

Amargo e frio, por favor.

Por quê?

Pra não sentir o gosto muito de perto. Tudo aquilo que não mexe muito com os sentidos, é excretado mais 
rapidamente.

(enche a xícara)

Chega, chega! Tá de bom tamanho!

Você é muito contida. Gosta do escasso.

Quem se contenta com o escasso não se importa com descaso (ri)

Deu pra rimar, agora, é? Desconhecia esse seu lado poético.

Prático apenas. Bem, vamos logo com isso, tenho pressa.

Contida e acelerada. Enquanto eu, devagar e sempre.

Eu prefiro ser rápida e momentânea. Só me lembro do ‘pra sempre do agora’, esqueceu?

(...)

Passado o tempo, abriu, uma vez mais, o armário. E tirou de lá apenas a lembrança daquela ‘política do café-com-leite’ que outrora havia vivido. Recordou-se que, agora, o café não vinha mais com leite e, muito menos, com conhaque. Era apenas amargo, frio e com prazo de validade. 


13 de setembro de 2012

Matéria prima

Isso aí. Venha com todas as suas palavras. Duras frações de um segundo que me pode ser eterno. Mas venha. Venha com tudo, que eu não tenho medo. Palavra, pra mim, é matéria prima!

Não gosto de palavra pela metade. Até aturo sujeito sem verbo. Mas verbo sem sujeito me dá uma gastura. Se preferir, venha mudo, que eu mudo.

10 de setembro de 2012

De Blues, Deus, Diabo e Lilith na terra do sol


Eu podia fazer um blues da Rua Téo
Das saídas inconstantes
E dos pequenos grandes amantes
Eu podia mesmo é pedir o seu tel.

Entre um almoço e outro,
Eu fico com as estrofes
Cortadas ao meio.
Entre uma música e duas cantadas,
Escolho os segredos que ficaram de escanteio.

Seu rock ‘n roll ou blá blá blá
Não impressionam mais que
O canto daquela sala de estar.

Café amargo eu não aceito
Tu sabe,
Não gosto de copo vazio meio cheio
E naquele Apê sem ar, 
Quero tudo: membros, olhos e cheiros.
Sem promessas, só novo lugar!


E, de repente, Deus e o Diabo
Se fez um só naquela terra do Sol
Se sou Lilith ou Maria Madalena
O que importa é nosso "SI" bemol.

"Sol aumentado pra brilhar mais",
há quem diga!
Mas eu prefiro sóis diminutos...
São mais confidenciais!


Mas,
Cá pra nós, não precisa fugir
Eu não tiro pedaço antes de engolir! 

8 de setembro de 2012

Eu quero é sambar!


A verdade é que, volta e meia, eu preciso de um samba. Pra alegrar a alma, levantar o espírito e diminuir a carga pesada do corpo. Eu não sei te dizer muito sobre o samba, sambistas e os ritmos dos ritmos. Mas, sabe uma coisa? O tambor, aquela batucada toda, a forma de mexer o corpo, me faz bem. Me (e)leva a alguma coisa que, aí, eu já nem preciso mais de explicação. Só me deixo levar. Me jogo na roda e vou! Eu preciso de alguém que, de fato, me ensine a sambar! Eu preciso de um samba já!

23 de agosto de 2012

Er(R)a uma vez uma outra vez

Era uma vez uma outra vez. Uma nova chance de contar uma velha história. Era uma vez um jogo sem blefes. E uns blefes sem chagas. Era uma vez alguém que er(R)a, mas mesmo assim continua sendo.

18 de agosto de 2012

É hora de (des)aguar (n)o aguado


Sinto que não caibo mais em mim. Assim como é o rio, que encontra águas salgadas, eu também preciso desaguar. Não sei. De repente, tudo ficou tão aguado. Os sonhos aconteceram. E, agora, eu já não sei seguir sem eles. Sinto-me pra dentro de mim. Lá no canto do útero. Apenas intro da expectativa. Uma gema de ovo no meio da clara clara. Pra mim, tão escura, submersa a redomas de outrem (ou de mim). Acho que é tempo de plantar de novo (com grão novo). É hora de ampliar o que ficou grande e de mastigar até mesmo as migalhas. Quando o verbo se faz carne, o que nos resta é engoli-lo. Esperar a digestão e se alimentar do que sobrou.

A gente não percebe, mas vivemos, eternamente, dos restos. Vivemos do pouco que fica de tudo que somos, comemos e vivemos.  Vivemos? (Nossa! De repente vejo que a prosa se assemelha com aquela de cinco anos atrás). É quase uma crise adolescente. A puberdade tem validade? Estou indo embora daquela que já fui. Confesso, às vezes tenho saudades de Deus. Me pego, à noite, pensando no tempo em que eu pedia proteção. Até tento voltar. Mas paro no meio do escuro e esbarro nos meus livros na estante, derrubando-me mais uma vez em meu sonambulismo (in)consciente. Fui derrubada de todos os lados. Os muros caíram. As resistências se transformaram em existência. Ou, então, lutas existenciais. Eis a entrada na vida adulta, ou, adulterada.

Tenho necessidade de estar mais próximo de mim. MiM é só MIM, mesmo lendo de trás pra frente.  MIM não é nada além do que isso que sou. E por que devo usar EU? Usar um EU? Ser um EU? Ser? EU logo vira UÉ, mostrando toda a nossa contradição. Palavras repetidas sempre formam alguma frase bonita. Tentei buscar rebuscar esse texto, deparei-me com outra palavra: REBUSCAR. Buscar novamente. A vida é sempre rebuscada, então. E essas letras todas começam a se misturar com as linhas finas, e as linhas finas? Ah! Eu não agüento mais as linhas finas, os “olhos” no meio das páginas e as aspas cortadas pela metade. Desculpe o auê! 

17 de agosto de 2012

É preciso seguir o ritmo da chuva


Uma gota. Duas. Três. Passa-se uma vida inteira para entender que a chuva não é à toa. Ela chega meio de canto, estuda o ambiente e aí, sim, despenca. Mas é difícil entender esse movimento todo, já que uma vez humanos, acabamos nos esquecendo que somos natureza. E moldamos o tempo. Sucatemos o espaço.  Mas é preciso forçar-se a voltar a ser natural. Deixar-se fluir, mesmo quando há redemoinhos impedindo a passagem. Caso eles apareçam, lembre-se que são eventuais. Agora, o ritmo da chuva - ao que parece - repete-se muito mais vezes. Mas a maioria de nós, não obedece a lei natural da própria natureza. Não adianta ser tempestade, quando se é tempo de garoa. Não adianta liquidar todas as nuvens e depois minguar com a vinda de novos sóis. Prefiro chuva fina que muito dure, do que tempestade que cause estrago. É preciso seguir o ritmo da chuva. 

6 de agosto de 2012

Dos cheios de vazio

Eu tinha me esquecido dos ecos do metrô. Tão dolorido quanto o silêncio de quem nele vai. A máquina é só o efeito dos sentidos dos que a conduzem, alimentam e ocupam. Muitas vezes, um corpo com espírito é muito mais mecânico que um grande esqueleto de ferro bruto. Às vezes, alguns olhares voam longe. Mas basta um pestanejar e tudo, outra vez, torna-se vazio. Mesmo estando tão completo. Tão perto. Tão sufocado.

E o grito estridente arranha ou ouvidos. Mas, ao que se nota, isso é apenas a vontade de sair voando, quando só se pode rastejar.

O que vejo de minha janela? Nada. Mas o nada me conforta, quando as portas se abrem e um nova escada se apresenta diante de mim. São tempos de subidas cada vez mais íngremes. Ora se está abaixo do baixo, ora, abaixo de mim. E aí, já não sei se volto ou se vôo.


5 de agosto de 2012

Com forma de coração

A verdade é que eu não quero só um pedaço de doce, eu quero é uma fôrma inteira de coração.

25 de julho de 2012

Aonde dorme o Sol


Um faroeste. Quente. Mas, por favor, um faroeste.  Pode também ser Preto e branco. Mas que seja um Faroeste.  Com direito a herói e a mocinha. Um faroeste. De 45 minutos, apenas. Mas que seja um Faroeste. É isso. Só um faro ao Oeste. 

18 de julho de 2012

MOLOTOV II

Eu queria muito fazer um poema com a palavra MOLOTOV. Mas ele explodiu em minhas mãos, antes mesmo de eu terminar. 

12 de julho de 2012

Apague os átonos

Odeio os diminutivos. As gentes de alma estreita e de medos tão compridos. Odeio os olhos curvos  e as curvas sem horizonte. Odeio os monossílabos e as sílabas engasgadas atrás da orelha. Odeio me forçar a odiar aquilo que aprendi a gostar. Odeio trocar sentimentos tônicos por sentidos tão átonos. Odeio, inclusive, a palavra Odeio. Por isso, reviro o verso e o inverso, e Odeio logo se transforma em Ideia. Apenas ideias vagando em palavras miúdas, soltas num ar condicionado entre uma consoante e uma vírgula. Aquele intervalo orgânico, que ocorre com todo corpo vivo, formado por átomos, tantas vezes tão átonos.

Deixa STAR

Deixa STAR. Brilhar, brilhar, até uma hora findar. Chegar à Asa Norte ou Sul de um novo chão, concreto ou gasoso, mas que tenha um horizonte a se alcançar.

22 de junho de 2012

Devir

Ela virou pro lado e resolveu, mais uma vez, acelerar a marcha. A marcha ré. E andando de ré, não reparou que estava indo aos mesmos caminhos que outrora havia passado e se perdido. Não percebeu que, às vezes, é melhor permanecer no semáforo amarelo, em vez de ficar avançando os sinais e atropelando o tempo. Em sua veia, o sangue pulsa de maneira mais corrente, tudo se oxigena e vira outra coisa em questão de segundos. Sem rosto. Sem nome. Sem cor. E seu corpo todo pulsa e grita por um pouco – só um pouco – de calmaria. Mas se acostumou tanto com o tempo do vento, que a brisa, meu rapaz, ficou pesada demais. E tudo é este eterno devir. De vir a ser algo preso num corpo aberto. Ou, então, de abrir passagem pra um carro ainda na contramão.

11 de junho de 2012

Dos intervalos


Tem horas que eu quero Tudo pra mim. E esse Tudo inclui os vazios que formam todo esse Todo. E não admito estar ausente entre um vazio e outro. Os intervalos me dão medo, confesso.  Mas também me encantam. Pois cantam aqueles silêncios despercebidos. Os que, ainda, estão aos pés do ouvido. Quem sabe, um dia, consigam chegar até aos olhos do coração.  

Eu sou uma AMADORA

AMADORA
AMA
AMAr
     A
       DOR que
     ADORA



Dos riscos



Me arrisco a dizer
Que este risco é
Arriscado demais para se riscar assim,
Tão subitamente
Em mim.

Se risco, arriscado
Também estou.

Se me arrisco
Risco pra
Você
Eu também dou.

Veja só
Era só um risco
Mas um poema virou! 

10 de junho de 2012

Cuidado com o tempo


Ela entrou vagarosamente em meu quarto. Meio à espreita parou na porta. Olhou fixamente para a janela e disse “Cuidado com o tempo”. Partiu. Foi para a cozinha, onde o tempo nunca para, sempre se mexe entre uma colher e outra dentro da panela. Enquanto em meu quarto, o tempo era vagaroso, pois sempre estava à espera. Talvez, de algum passarinho bicando na janela, com seu canto indecifrável. Ou então, do toque de uma brisa fria ou quente, mas que fosse boa.

E essa espera era ao mesmo tempo uma espera de mim, de se saber onde um Eu começava até o Outro chegar. Uma necessidade de saber até aonde minhas pernas podiam alcançar. O que queria era alcançar um céu, mesmo sem borboletas. Mas o que queria mesmo era sentir borboletas.



Fechou as janelas que ainda estavam abertas. Não estava pronta para os passarinhos, brisas ou qualquer coisa que adentra sem pedir licença. Foi caminhando até a cozinha e lá encontrou, mais uma vez, um tempo em ebulição. Colocou-se em volta da mesa retangular e quis, pela primeira vez, que esta fosse um grande círculo. Sentiu-se à vontade para ter vontades estranhas. De correr em volta da mesa e pedir uma colher, só uma colher, daquele tempo que parecia não voltar.

E se lembrou das prosas ao fim do dia. Das histórias em dias de chuva. E da vela pra Santa Bárbara que fez um raio pairar no ar. Enquanto isso, o tempo se sublimava pela fresta do vitrô. E percebeu que naquele canto da casa tudo tinha consistência. Tudo se formava e se deformava no espaço, com um começo, um meio, mas nunca um fim. Quando parecia acabar, logo se transmutava em algo muito além daquilo que era, e tomava novos rumos, novos céus, que excediam as velhas telhas de brasilit.

Foi aí que ela percebeu que não importa quão redonda é a roda, o que importa é você estar em movimento. Deixar as janelas abertas, para que as coisas todas possam entrar e sair quando bem entendem, para que saibam que o teto que as envolve é só o primeiro degrau de uma escala maior ainda.

Nesse dia, o feijão ficou pronto às 13h. A chuva começou a pingar. A janela do quarto foi aberta e toda a ebulição do outro lado da casa se voltou para aquele fechado. Se ela soubesse do movimento do tempo à tempo, teria deixado os caminhos abertos bem antes. Porém, é preciso cuidar do tempo, para não perdê-lo de vista. Às vezes, ele está bem ali, na cozinha ao lado. 

22 de maio de 2012

Um pires

São tantas informações. Nenhum detalhe. São tantos detalhes. E tão pouca informação. É um diz que me diz. É um faça, digite, telefone, fale, ouça, preste atenção. E eu já não consigo prestar mais nada. Prestar para nada.

7 de maio de 2012

Eu quero Lua Cheia

Migalhas minguam com a ida da Lua
E eu...Ah! Eu quero Lua Cheia.
Exijo gente inteira.
Mentiras sinceras me interessam, sim!
Mas raspas e restos, definitivamente, não! 

1 de maio de 2012

Deu samba? Joga no gol!


Samba e futebol são duas das coisas mais democráticas no Brasil. Neste momento, estão fazendo um "batuque" em um boteco perto de casa, usando balde, bacia e afins. Enquanto isso, meninos batem uma bola no "campo de asfalto". As marcações dos gols são feitas com chinelo havaiana. Improviso, você vê na perifa!


E sempre foi assim, desde os tempos da carochinha, como dizia meu falecido avô. Lembro que naquela época, a molecada toda vinha na minha casa pra jogar uma bola. O quintal nem era tão grande assim, mas dava bem pra fazer umas cinco partidas e ainda sair umas brigas, claro. Mas a Vó não gostava nada disso. " É barulhento demais", dizia, e um dia despachou toda a molecada pra casa. Foi então que eles  notaram que a "Rua A" era bem maior que nosso quintal. Hoje, parte desses meninos já estão casados, são pais de família, trabalhadores e coisas mais de gente crescida. De vez em quando, ainda os vejo na pelada com a garotada da nova geração, uns dez anos mais novos. Mas, no geral, trocaram o bate bola por uma breja na esquina, com direito a samba  feito de balde ou no banquinho de madeira. O tempo passa, as gerações se reformulam, mas o bom e velho improviso continua sendo a felicidade do povão. 


Viva o samba, o futebol e o feijão com arroz de cada dia. Amém.

29 de abril de 2012

Eu cansei de engolir, eu preciso vomitar

Preciso vomitar. Um texto. Um amor. Uma dor. Um orgasmo qualquer de um sonho lúcido de beira de estrada. Abril passou ligeiro, abrindo-me mais um pouco para as dores do mundo, das ruas e das calçadas ainda cheias de formigas pisoteadas. Fortaleci-me de fraquezas. Enfraqueci-me com fortalezas alheias, mas tô de pé, dizia ela, enquanto tragava o último toco de seu baseado.



Corria pra ver o último trem de carga passar, enquanto o Sol já estava indo embora. A sua própria carga era maior que tudo aquilo, que tudo isso, tudo inteiro. O trabalho terminava às 18h. Raramente tinha o privilégio de ver o Sol. Em seu pensamento, só havia reminiscências. Sempre as mesmas.


E, pra que errar o caminho de casa, de novo? Voltar de mãos vazias, atadas. Sempre igual. Sempre o mesmo final? Rimar é coisa de quem não tem conteúdo, afirmava um poeta do século XIX, que morreu dizendo que viver é morrer, e etc e tal.


Fórmulas. Um montão delas me mostrando que o Sol chega só de vez em quando, e eu tenho que sair às 18h. Corra moça, corra. Corra moça, corra. Corra moça, corra. Eu cansei de esperar. Eu cansei de engolir, eu preciso vomitar. Vomitei palavras esdrúxulas em seus olhos. Você fingiu ouvir. Incoerência brutal. Os olhos passaram de janela da alma para ânus do corpo. Você me olha dizendo alguma coisa qualquer. Dizendo até que me quer. No outro dia eu saio, pulo a janela e a prostituta que vive em mim renasce de um corpo virado na cama.


As mesmas migalhas. Os mesmos restos de um prato já mastigado, estragado, na beira desse quintal de sucatas. Vi meu rosto na televisão. Eles dizem que me retratam. (Sim. Num retrato 3x4, enquadrado, falsificado). Eles fingem que sou eu. E eu finjo que acredito. Novela das 8h, que é às 9h. É, meu príncipe eletrônico parece que ta pra chegar. Invadiu minha mente e coração, agora quer meu corpo, toda a minha alma. Eu me retraio, mas ele me quer. Eu repulso, mas ele pulsa sobre em mim em todos os cantos. Na sala, no quarto, na cozinha. Ele pensa ser Deus e me ter como sua serva. Mas eu continuo lhe negando. Até quando? Não sei. Príncipe eletrônico, eu não acredito mais em contos de fada e a TV pra mim é (quase) nada.

11 de abril de 2012

Soul Love

Paixões são como livros. Basta começar um novo para você se esquecer da última história e mergulhar na atual. Há quem vai discordar e dizer que há livros que nunca esquecemos. Isso aí eu costumo chamar de Amor. 

9 de abril de 2012

Por um fio

Tudo que eu faço é quase.
Tudo que é quase é pouco.
E tudo que é pouco, pra mim, é nada. 

5 de abril de 2012

t/s

Às vezes, me dá a impressão de sempre estar no lugar errado e na hora errada. Depois penso que tempo e espaço não existem, são só medidas.

2 de abril de 2012

Placas tectônicas mascaradas de base de apoio


É que tem horas que a gente cansa de buscar bases de apoio onde, na verdade, só existem placas tectônicas.

30 de março de 2012

De quando o EU se conjuga em outras pessoas

Sabe quando você vê a foto daquela pessoa que morreu e te dá grande aperto nos olhos e as lágrimas param no coração? Pois, é. Me senti assim, agora. E me sinto assim quando vejo também as fotos daqueles amores partidos, daquela amizade que se esgotou ou do sorriso quebrado ao meio. Saudades de tudo que não está mais amarrado entre nós, sejam eles apertados ou frouxos. A morte, quando chega, transforma o que estava junto em mera 1ª pessoa do pronome pessoal do caso reto. Transforma em EU. Isso mesmo. E EU é sozinho. Eu é ego. Cego. Quando digo EU é porque quero dizer saudades. Quero dizer que: cá estou com saudades de quando pude me conjugar em outras pessoas, seja de casos retos ou oblíquos. Tônicos ou átonos. Saudades de quando pude ser outros pronomes e, assim, alimentar-me de verbos, versos e prosoicas palavras que, agora, já estão soltas em um outro universo. Para onde as coisas vão quando morrem? Não sei. Mas começo a achar que viram versos de palavras escondidas. As palavras nunca morrem, apenas se transmutam.

28 de março de 2012

Sorte no jogo ou jogo no amor?

Eis que a cigana virou para a moça que passava e disse:

- Desejas um pouco de sorte no jogo e um tanto de jogo no amor?

E a moça, mesmo desacreditada de suas próprias crenças, apegou-se em si mesma,  e só em si, e respondeu:

- Desse jogo eu não jogo, nem pego senha. Passar bem!

Foi aí que a cigana largou mão das cartas e das senhas que ainda estavam na manga. Percebeu que sorte na vida não é jogar... É VIVER!

19 de março de 2012

Essa Lua em Peixes com baixa em Ré com sétima

Volto, então, a ser de novo Selenita... aquela jovem senhora velha que, hipoteticamente, habita os recôncavos daquela Lua em Peixes. Aquela mesma que me mantém viva, mesmo outrora me afogando em tantos sonhos. Lúcidos sonhos que já me esqueci.

Não sei. Mas, ainda, não consegui acordar. Estou de pés e mãos atadas, e com um coração subindo pelas paredes. Sei que já acordei. Mas permaneço intacta entre  lenços e lençóis úmidos.  Penso que todo tipo de excreção é uma forma de se esvaziar a alma, pra ela continuar crescendo.  E se liquidando, sinto o peso desse coração, que, a cada dia, se torna mais insustentável.

As vias continuam vivas. Já faz uns ventos que você assoprou por aqui. Já faz umas estrelas que você caiu por ali. Há tanto tempo no tempo, que eu já cansei de esperar o timing dos seus dedos trocando acordes de um trovão. Talvez, se parasse de caminhar pelo RÉ, poderia chegar mais próximo de MI.Mas só talvez. 

12 de março de 2012

Tempo e espaço no passado

Um ano passa. Passa o ano. As horas. 365 dias corridos numa folha na parede. Agora já foi jogada fora. Passou. Acabou. Outras folhas também foram jogadas outra vez. Algumas ainda permanecem na gaveta. Um dia, talvez, saiam da poeira que as guarda. Talvez não saiam nunca mais. Mas durante todo aquele ano, aquela folha foi marcada e rabiscada. Cada dia foi esperado como um povo espera seu messias. Cada semana foi anulada para que o novo mês chegasse mais depressa. Um dia parecia um ano. Agora, um ano parece que foi só um dia. Ufa! Que bom que já acabou. " Boa noite". " Boa noite". Desculpe, mas pra mim já raiou um novo dia e, sinto muito dizer, mas já é tarde, muito tarde." Boa tarde, então?". Até um novo dia! 

11 de março de 2012

A hora e a vez de Vênus

A história de uma mulher, de uma sonhadora, de umas tantas que lutam e vão pra cima. Sem medo. Com fúria saindo por todos os poros, pelos cabelos presos ou soltos. Pelos ventres. Pelas trompas ou seios. Somos muito, mas muito mais que meros corpos passando por uma rua. Somos as carregadoras do mundo, que vai meio apertado em nosso ventre. Mas vai. Continua indo, porque nós, mulheres, o seguramos com força, com garra, para continuar crescendo... Mundo, mundo, vasto mundo? Mais vasto é o coração de uma mulher.

2 de março de 2012

Só sei que nada sei

São cento e quarenta caracteres.
São mil caras estéreis.
Cobertas por pixels cada vez mais reduzidos,
assim como as estrelas se reduzem à claridade humana.

Sou o que não sou de alguma coisa que nem aprendi a ser
As caras ainda estão pintadas, mas os rostos permanecem cinzas
Continuam preto e branco, cor sim, cor não, bem ou mal
Ser ou não ser não é mais a questão, é condição. É a mais pura forma de ser. De estar sendo sem querer.

São cento e quarenta caracteres de caras estéreis
em frente aos pixels pintados de néon
São coloridos de cores falsas,
vindas de uma gente que só se inventa por letras serifadas
de um papel marrom. 

São. Eles estão sãos. Eles são estão.  E eu só sei que nada sei.
Frases soltas e preenchidas. Fiz também meu papel. 

28 de fevereiro de 2012

The Scream de mim

E do outro lado da lua formou-se uma fronteira que não se pode mais  apagar. São sóis vibrantes que não param de queimar as últimas cartas vindas do sul. São estômagos inteiros gritando um pouco de poesia, enquanto de suas bocas já não sai nenhuma palavra, sequer ruídos. Seu feedback demorou muito a chegar, e eu logo respondi com outra pergunta aquilo que já não podia mais ser questionado. Quantas são as estrelas deste céu? E do outro lado, ainda há de haver outras mais? O outro lado é sempre um mistério. E as palavras são vagas ilusões de compreensão. Os escritos são, assim, ilusões múltiplas, quando passam pelos canos agudos da memória e, depois, chegam aos recôncavos dos dedos. Gritos sufocados estão de baixo do travesseiro. Estão em gargantas sangrando pelos olhos. E as palavras continuam sendo a ilusão de quem tem pressa em dormir, para logo saber o que irá sonhar.