26 de outubro de 2012

Na vida, sempre há um escolhe-dor


Era horário do almoço. A avó escolheu ir escolher feijão, enquanto a menina o arroz. Dali a pouco, a menina foi até a mesa e parou um tanto de tempo pra ver o tempo da avó passar. E não entendia bem quais eram os critérios que a senhora utilizava pra separar o feijão. Ora a senhorinha jogava o grão na panela. Ora colocava de lado.

“Esse vai. Esse não vai. Esse vai também. Esse não e esse aqui também não”. E a menininha, encabulada e cheia de perguntas, não hesitou em interromper a avó.  “Que foi, menina? Num tá vendo que tô ocupada, ora?”, reclamou a vózinha.

A menina desistiu de todas as perguntas e cresceu com aquelas dúvidas atrás da orelha, dos olhos e também dos dedos. “E, agora? Qual será o critério da escolha do feijão?”, se questionava, uma vez ou outra.  Eis que um dia foi fazer uma visita à avó, em horário de almoço. E, como há anos, a avó também colhia o feijão, com a mesma paciência e concentração.

Dessa vez, a menina  - agora, moça grande - decidiu que não perguntaria nada. Apenas observaria os gestos, os olhos e as mãos. E a avó nem percebeu sua presença ali, quietinha, e continuou na lida.
Foi aí que a moça percebeu que, em todo almoço, há um escolhido.  E o escolhido, no final, não tem escolhas, a não ser que ele passe a ser escolhe-dor, quem sempre escolhe a dor do outro, sem razão ou sem querer.  

"Filha, vem almoçar, vem?".

Já vou, vó. Tô escolhendo a minha dor. 

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