Acabo de ver uma foto de Dominguinhos
acompanhada de uma frase dita por ele e Renato Teixeira: "Os verdadeiros
amigos sabem entender o silêncio e manter a presença, mesmo quando
ausentes". Soa clichê botar uma frase do homem assim, logo após sua morte,
mas é que ela faz tanto sentido, pois, assim como, agora, há uma sanfona e uma
legião de fãs silenciados, esse mesmo silêncio é que nos levará às lembranças, ao sorriso dado, ao abraço apertado, ao até logo
que não chegou. Andei pensando, esses dias, sobre a tal da "amizade
verdadeira". Deparei-me com um tanto de saudades de conversas que não são
mais as mesmas, de expressões que já não fazem mais sentido. Vi fotos de gente
que, hoje, já não reconheceria passando na rua. São rostos que já riram ou
choraram ao meu lado. Já me juraram amizade eterna. Seria muito injusto dizer
que vocês todos, hoje tão distantes, não são amigos verdadeiros. Há dificuldade
bastante em compreender que as relações afetivas que vivenciamos não são nossas
propriedades. Muitos momentos da vida nos permitem aproximações e fidelidades
incomparáveis. Mas tempo e espaço também são unidades em constante mutação. É
difícil compreender que tanto assunto acabou se transformando em um breve
"olá, como vai, tudo bem?". É preciso domar a alma para aceitar a
palavra ex-amigo. Eu aceito até ex-namorado, mas ex-amigo é palavra que desce
rasgando goela abaixo. Aí tu pensa em vomitar todas as histórias ou
confidências, em um gesto de vingança, já que não possui mais aquilo que
outrora ninguém lhe tirava. Agora, assim como a frase de Dominguinhos, restam
apenas o silêncio, a ausência e a certeza de que todos aqueles que passaram
estão presentes de alguma forma.
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