8 de julho de 2014

Sobre a virada cultural, apropriação do espaço público e enquadros sem sentido:

Sempre me encantou a ideia da Virada Cultural. Momento que todo mundo ocupa as ruas, sem distinção de classe, cor ou credo. Antes, eu era uma criança que via isso pela TV. Hoje, uma jovem que faz questão de olhar a programação e pular de palco em palco, com aquela sensação de que é possível, pelo menos um dia, andar a pé pelo centro de São Paulo; andar de trem e metrô por 24h, já que nos outros 364 dias do ano, nós, que vivemos nas bordas da cidade, temos que voltar antes da meia noite ou depois da cinco. Nesse dia de virada, podemos desfrutar do transporte público e fingir que nosso direito de ocupar a cidade existe. É o dia de ver os meninos todos gritando "Vai Corinthians!" na estação República, como símbolo de uma liberdade inexistente nos outros dias do ano. É dia de ver a cidade suja, sim. De ver, por vezes, casos de violência também. Afinal, diferente dos outros, nesse dia há gente ocupando as ruas. É claro que há um grande percurso para entender que a cidade também deve estar limpa, que os ânimos devem se conter, mas tudo isso que os jornais pregam como pontos negativos são resultado de algo positivo, que é a pluralidade. Caso ela acontecesse todos os dias, talvez o lado ruim nem ocorresse mais. Mas uma outra coisa que muito me chamou a atenção em meu passeio de ontem, é a forma como a polícia aborda os mesmos meninos que neste dia podem viver o centro. Me chateia. Me dá nojo saber que é possível julgar alguém pela roupa, pela cara, pelo sapato que veste. E foi exatamente isso que vi ontem. Vi um mundaréu de gente indo e vindo, mas apenas alguns meninos sendo encurralados em paredões, onde homens fardados invadiam seus corpos sem nenhuma explicação. Quais são os critérios disso? Em meio a tanta gente, por que dez são escolhidos? Minha covardia, no entanto, me impediu de barrar esse tipo de atitude, deve ser por isso que agora eu as escrevo aqui. Por essas e outras que eu me junto aos meninos da República, pois o eco de nosso grito ainda é baixo perto das atrocidades que vivemos.

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