21 de abril de 2011

O diabo que te carregue

Quando nasci, meu pai não tinha carro nem caranga. Meu avô, então, só tinha um cavalo manco. O grande dia havia chego. E, agora? Quem poderia me buscar no hospital? O Diabo, oras!

Seu Diabo até hoje me vê na rua e diz “Nossa! Como a menininha cresceu”. E foi sempre assim, desde que eu era criança miúda e meu pai gritava da sala, dizendo que o Diabo estava lá. Sempre saia correndo daquele homem com nome de Demo. Achava que não tinha idade para ir para o inferno. “Criança não é anjo?” Por que eu, logo eu, um anjo recém nascido, tinha que ter sido buscado pelo Diabo?

Naquela época, Deus era um cara barbudo e o Diabo estava na minha sala.  Sinal da Cruz, três aves - maria  e dez padre-nossos, esse era o ritual do encontro com o tal do homem. Quando ia embora, meu medo passava e eu agradecia às barbas do senhor por ter me guardado.

Ontem, eu fui ao cemitério de onde moro. O Diabo estava lá em carne e osso e voltou a dizer “Nossa! Como a menininha cresceu”. Pela primeira vez, eu não tive medo. Percebi que ele era só o Seu Agemiro e havia feito um grande favor aos meus pais. Já o outro cara barbudo, não sei mais por onde anda, talvez tenha raspado a barba! 

2 comentários:

  1. Francisco (Seu Cabrito)21 de abril de 2011 às 14:53

    De repente você faz a gente viajar por seus pensamentos, por suas idéias.. É bom, muito bom!

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  2. Pois é O diabo nem sempre é o que parece.

    esta parecendo conto do Norte

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