3 de novembro de 2015

A manicure, o viaduto, a vida

Hoje, em vida de jornalista:
É sábado de manhã, o dia começa às 10h. Entrevista marcada. 11h05, entrevista realizada com sucesso. Saio do local da conversa para a rua. O centro peruense já estava a todo vapor. A moça da padaria cortando o frango assado do almoço. Os do dominó jogando dominó. E o Sol, que me apressava o passo rumo ao morro, me fez olhar à esquerda da sombra que pairava no viaduto. De lá, então, eu parei, cismada, olhei de novo, era aquilo mesmo. Sou toda em curiosidade, sempre. Quis fotografar. Achei melhor fazer o "approach". A manicura limpava empenhada as unhas da senhora sentada em uma cadeira, enquanto as unhas da outra mão, compridas, já traziam um vermelho rubro que fazia até reflexo. Dona Aldenice, 64, há cinco anos se encontra com a amiga ali, debaixo do viaduto, para fazer suas unhas. "É nosso ponto de encontro", a clienta diz. Aldenice é manicure há 45 anos, mas diz que faz cabelo também. "O problema é a tendinite, sabe?", e mostra o punho da mão direita, mesma mão que faz as escovas nos cabelos das meninas por anos. "Agora, eu prefiro ficar só com unha mesmo. Às vezes, eu tô no salão, às vezes nas casas, mas a casa dela é muito escura, aí a gente vem aqui"!
Peguei o caminho do Sol de volta pra casa, enquanto Aldanice continuou lá, lixando o pé da mulher, os do dominó jogando dominó, os da padaria cortando frango assado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário