3 de novembro de 2015

Metralhadora alemã ou de papel

Voltava eu de mais uma viagem do shopping trem. Era fruta no palito, sorvete um real; gelada, água mineral. Saltei do trem com um único objetivo, atravessar o mar de gente e chegar ao ponto do ônibus 'Cemitério Perus'. Mas como há, em todo caminho, uma pedra, ouço, em meio à multidão, uma voz que atravessava os trilhos e chegava estridente do outro lado da plataforma. O guarda, em seu uniforme verde fluorescente e o rosto vermelho de tanto calor, gritava ao outro, sem receio de aflorar as multidões. "A usuária [da CPTM] avisou que tem um cobertor embrulhado no fim da plataforma, que deve ser uma criança que jogaram lá". Gente, como ele fala isso assim, pensei, mas minha curiosidade deu graças ao funcionário desavisado. Atravessei correndo aquelas escadas de ferro que pareciam não ter fim à minha vontade de saber o que havia acontecido. Deixei minha mãe, cansada coitada, esperando a minha curiosidade ser sanada, enquanto fui caminhando, quando encontrei um grupo de umas sete pessoas, todas encostadas nas grades da estação. Uma senhora, afoita que estava, dizia em alto e bom tom "eu que descobri isso, olha o cheiro de carniça subindo, gente". Enquanto um vendedor ambulantes com suas sacolas julgava, antecipadamente, aquela mãe que deixou, ali, o filho abandonado. "Quem tem coragem de fazer isso, não tem coração". "Mas nesse calor a criança já deve ter morrido". os guardas da estação, com suas luvas brancas, chegaram como os salvadores da pátria. Eu, do lado de lá, resolvi sentar no banco e fechar os olhos. Enquanto os outros, muito mais corajosos, estancaram seus pés e olhos na ação dos guardas, que pouco a pouco, iam remexendo aquele cobertor meio cinza, meio azul, enrolado a fitas crepe. Um deles resolveu tocar o embrulho. "Não tem peso". "Ah, mas vê direito", grita a mulher, grande detentora daquela descoberta. "Ih, se a polícia chegar aí, vai ficar pequeno pros guardas, não pode mexer no crime assim", um outro senhor apontava. Lá em baixo, no entanto, eles começaram a desgrudar as fitas que envolviam a coberta. Uma a uma. Quando, de repente, o miolo daquele embrulho finalmente se fez visto entre todos nós que na estação de trem Perus estávamos. E aí, meus companheiros, que eu vos digo, aquele alvoroço não era nada, senão pano demais pra manga, um tanto de pano pra manga, que cobriam uma metralhadora - mas não era alemã, nem de israel - era um brinquedo de madeira, mas poderia ser de papel.
Eu sou Jéssica Moreira, direto da Linha 7-Rubi, liga Luz-Jundiaí!

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