3 de novembro de 2015

Homesickness

Dublin, último escrito. 6 de agosto. E na contagem regressiva regresso meus olhos para as janelas transparentes da minha - sempre - Blessington Street. De onde vêm todas essas silhuetas sem cor por detrás dessas esbranquiçadas cortinas? Quantas vezes, não poucas, eu estacionei meu olhar aos pés da minha própria janela. Que intriga era ver aquele canto direito do segundo andar do prédio logo em frente. Aquele menino; seu computador que o fazia 'varar' a noite em claro, como diria minha vó. Tirando esse momento - entre minha curiosidade e sua insônia - não soube, nunca saberei quem era a pessoa por trás daquela janela. Na janela logo acima àquela outra, uma luz que atravessava a rua e chegava até a minha sala, sem avisar. "Estariam eles fazendo um reality show de como convivem quatro garotas de diferentes nacionalidades em um mesmo flat de dois cômodos"?, questionavá-mos nós, minhas irmãs de flat e nossos convidados, quando sentados à mesa, todos alvo daquela misteriosa luz. E No outro prédio, à direita, último andar, aquele teto baixo, luz escura, aquela anônima mão que se mostrava na fresta, sempre trazendo um cigarro aceso. Enquanto isso, mais abaixo, um rapaz qualquer subia e descia pesos em suas costas, fazendo-me lembrar "do escravo de seus fins" do Histórias do Sr. Keuner do Bertolt Brecht. E eu, cá, me pergunto. Por que raios faz meu vizinho exercícios físicos? "I don't know, I will never know it"! No fim, nós todos estamo sutentados pela mesma Blessington Street, por onde correm todos os dias nossas anônimas histórias sem rostos. Um dia, até pensei, devem ser todos eles brasileiros. Não o são. Ou até são, não sei. O que, então, percebo é que este lugar me pertence e, assim, dele me sinto parte, lembrando-me do lugar de onde vim. E, agora, não sou mais só eu, sou essa brasileira com coração de leprechaum irlandês. Que eu nunca esqueça o colorido de suas portas escondido no cinza de seus dias, Dublin. LoveU.

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